segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Estudo Biblico

A Imperfeição do Conhecimento Humano John Wesley Pregado em Bristol, 05 de Março de 1784. "Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos" (I Cor. 13:9) I. Quão surpreendentemente pouco sabemos de Deus! II. Nós não estamos melhores familiarizados com seus trabalhos de providência, do que com suas obras de criação? III. Nós somos capazes de procurar saber, alguma coisa a mais, sobre suas obras de graça, do que sobre seus trabalhos de providência? IV. Diversas lições valiosas, nós podemos aprender da profunda consciência de nossa própria ignorância. 1. O desejo do conhecimento é um princípio universal no homem, fixado em sua natureza mais íntima. Ele não é variável, mas, constante, em toda criatura racional, a menos, enquanto ele é suspenso por alguns desejos fortes. E ele é insaciável: "O olho nunca está satisfeito com o que vê, nem os ouvidos com o que ouve". Nem a mente com algum grau de conhecimento que possa ser concebido dentro dela. E ele é plantado, em toda a alma humana, para propósitos excelentes. Ele é pretendido para impedir nossa inércia em qualquer coisa aqui embaixo; erguendo nossos pensamentos para objetos mais altos, mais merecedores de nossa consideração, até que ascendamos à Fonte de todo conhecimento e toda excelência, o Criador de toda sabedoria e toda graça. 2. Mas, embora nosso desejo de conhecimento não tenha limites, nosso conhecimento, em si mesmo, tem. Ele é, de fato, confinado, nos mesmos limites estreitos; muito mais estreitos do que as pessoas comuns possam imaginar, ou homens letrados estão dispostos a admitir: uma forte sugestão, (já que o Criador não faz coisa alguma em vão), que possa haver algumas condições futuras de existência, por meio das quais, este, até o momento, desejo insaciável, possa ser satisfeito, e não haja distância tão grande entre o apetite e o objeto dele. 3. O presente conhecimento do homem está exatamente adaptado para as suas necessidades presentes. Ele é suficiente para nos alertar, e nos preservar dos perigos às quais nós estamos agora expostos; e para obter o que quer que seja necessário a nós, nessa condição infantil de existência. Nós sabemos o suficiente da natureza e qualidades sensíveis das coisas que estão à nossa volta, tanto quanto elas são subservientes à saúde e força de nossos corpos: nós sabemos como procurar e preparar nossa comida; nós sabemos como construir nossas casas e as mobílias delas, com todas as necessidades e conveniências; nós sabemos apenas, o quanto é conducente, para vivermos, confortavelmente, nesse mundo: Mas das inumeráveis coisas acima, embaixo e ao redor de nós, o muito que sabemos é que elas existem. E nessa nossa ignorância profunda é visto a bondade, tanto quanto a sabedoria de Deus, resumindo seu conhecimento de todos os lados, com o propósito de "encobrir a vaidade do homem". 4. E, em conseqüência disto, pela mesma constituição de sua natureza, o mais sábio dos homens "sabe", mas "em parte". E quão espantosamente pequena é a parte que eles conhecem, tanto do Criador, quando de suas obras! Esse é um tema muito necessário, mas também muito desagradável; porque "o homem tolo seria sábio". Vamos refletir sobre isso, por enquanto. E possa o Deus da sabedoria e amor abrir nossos olhos para discernir nossa própria ignorância! I. 1. Para começar com o próprio grande Criador. Quão surpreendentemente pouco nós conhecemos sobre Deus! Quão pequena parte de sua natureza, nós conhecemos de seus atributos essenciais! Que concepção nós podemos formar de sua Onipresença? Quem é capaz de compreender Deus, nesse e em todas os lugares? Como ele preenche a imensidão do espaço? Se os filósofos, ao negarem a existência do vácuo, apenas quisessem dizer que não há espaço vazio de Deus, que todos os pontos do espaço infinito é cheio de Deus, certamente, nenhum homem poderia chamar isso à questão. Mas, ainda que o fato seja admitido, o que é Onipresença ou ubiqüidade? O homem não é mais capaz de compreender isso, do que alcançar o universo. 2. A Onipresença ou a imensidade de Deus, Sir Isaac Newton esforçou-se para ilustrar através da forte expressão, denominando o espaço infinito de "O Sensório da Divindade". E os mesmos ateus não tiveram escrúpulos para dizer, "Todas as coisas estão cheia de Deus": Apenas equivalente com suas próprias declarações: "Eu não encho céus e terra? - diz o Senhor". Quão maravilhosamente o salmista ilustra isso! "Para onde eu devo fugir da tua presença? Se eu subir ao céu, tu estás lá: Se eu vou para o inferno, tu também estás. Seu eu levo as asas da manhã, e permaneço, nas partes mais remotas do mar, mesmo lá, tua mão me encontra, e tua mão direita me segura". "Mas, nesse meio tempo, que concepção podemos formar tanto de sua eternidade, quanto de sua imensidade? Tal conhecimento é muito maravilhoso para nós: Nós não podemos alcançar isso". (Salmo 139:7-10) "Para onde me irei, do teu Espírito, ou para onde fugirei de tua face? Se subir ao céu, tu ai estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva,; se habitar nas extremidades do mar; até ali a tua mão me guiará, e tua destra me susterá" 3. O segundo atributo essencial de Deus é a eternidade. Ele existe, antes de todo o tempo. Talvez, mais propriamente, pudéssemos dizer: Ele existe, desde o sempre, para o sempre. Mas o que é eternidade? Um renomado autor diz que a eternidade Divina "é a concepção imediata, inteira e perfeita, da vida que nunca tem fim". Mas quão mais sábio nós ficamos, por causa dessa definição? Nós sabemos disso, tanto quanto sabíamos antes! "A concepção imediata, inteira e perfeita!". Quem pode conceber o que isso significa? 4. Se, realmente, Deus tinha estampado (como alguns têm mantido) uma idéia de si mesmo, em toda alma humana, nós devemos, certamente, ter entendido alguma coisa desse, assim como, de outros atributos; já que não podemos supor que ele tivesse imprimido em nós uma idéia falsa, ou imperfeita de si mesmo; mas a verdade é que nenhum homem encontrou, ou encontra agora, qualquer idéia estampada em sua alma. O pouco que nós sabemos de Deus (exceto o que nós recebemos por inspiração do Espírito Santo), nós não reunimos de qualquer impressão interior, mas, gradualmente, adquirimos, exteriormente. "As coisas invisíveis de Deus", se elas são conhecidas, afinal, "são conhecidas das coisas que são feitas"; não do que Deus tem escrito em nossos corações, mas do que Ele tem escrito, em todas as suas obras. 5. Daí, então; das suas obras, particularmente, das suas obras de criação, nós podemos aprender o conhecimento de Deus. Mas não é fácil conceber o quão pouco nós sabemos mesmos desses. Para começar com aqueles que estão á uma certa distância: Quem sabe quão distante o universo se estende? Quais são os limites dele? As estrelas da manhã podem dizer, aquelas que cantaram juntas, quando as linhas dele foram esticadas para fora, quando Deus disse: "Seja essa tua circunferência, ó mundo!" Mas as estrelas fixas têm escondido, totalmente, dos filhos do homem, tudo o mais. E o que nós sabemos das estrelas fixas? Quem pode dizer o número delas? Mesmo essa pequena porção delas que, pela sua luz misturada nós denominamos "via Láctea?". E quem sabe o uso delas? Elas são muitos sóis que iluminam seus respectivos planetas? Ou elas apenas auxiliam nisso, (como o Sr. Hutchinson supõe), e contribuem, de alguma maneira desconhecida, para a circulação perpétua da luz e espírito? Quem sabe o que são os cometas? Eles são planetas não completamente formados? Ou planetas destruídos por uma conflagração? Ou eles são corpos de uma natureza totalmente diferente, do qual nós podemos formar nenhuma idéia? Quem pode nos dizer o que é o sol? O seu uso nós sabemos: mas quem sabe de que substância ele é composto? Não, nós ainda não somos capazes de determinar, se ela é fluida ou sólida! Quem sabe a distância precisa do sol a terra? Muitos astrônomos são persuadidos de que se trata de centenas de milhões de milhas; outros, que é apenas oitenta e seis milhões, embora, geralmente, considerada noventa. Mas, igualmente, grandes homens dizem que é não mais do que cinqüenta; algum deles, que é doze milhões: Por último, chega o Dr. Rogers, e demonstra que são, justos, dois milhões e novecentas mil milhas! Tão pouco nós sabemos, até mesmo, dessa luminária gloriosa, o olho e alma do mundo menor! E, do mesmo modo, tanto quanto dos planetas que o circundam; sim; de nosso planeta, da lua. Alguns, realmente, descobriram: Rios e montanhas em seu globo iluminado; sim, destacaram todos os mares e continentes delas! Mas, afinal, nós sabemos quase nada do assunto. Nós temos nada mais do que meras conjecturas incertas concernentes ao mais próximo dos corpos celestes. 6. Mas vamos para as coisas que estão mais perto de casa, e inquirir o conhecimento que nós temos delas. Quanto nós conhecemos desse corpo maravilhoso, a luz? Como ela é trazida até nós? Ela flui num fluxo continuado do sol? Ou o sol impele as partículas, próximo à sua órbita, e assim, por diante, até a extremidade de seu sistema? Novamente: A luz gravita ou não: Ela atrai ou repele outros corpos? Ela está sujeita às leis gerais, as quais prevalecem em todos os assuntos? Ou ela é um corpo "siu generis", completamente, diferente de todos os outros assuntos? É o mesmo com o fluído elétrico, e outros controlam seu curso? Porque o vidro é capaz de ser mudado para tal ponto, e não mais além? Centena de mais perguntas poderiam ser feitas sobre esse assunto, que nenhum homem vivente pode responder. 7. Mas, certamente, nós entendemos o ar que respiramos, e que nos envolve de todos os lados. Por essa admirável propriedade de elasticidade, ele é a fonte geral da natureza. Mas a elasticidade é essencial para o ar, e inseparável dele? Não; já foi provado, por inúmeros experimentos, que o ar pode ser fixado, ou seja, despido de sua elasticidade, e produzido e restaurado a ela novamente. Entretanto, ele não é, por outro lado, elástico, do que quando ele é conectado com fogo elétrico. E não é esse fogo elétrico ou etéreo, a única elasticidade verdadeiramente essencial na natureza? Quem sabe por qual poder o orvalho, chuva, e todos os outros vapores sobem e caem no ar? Nós podemos considerar o fenômeno deles princípios comuns? Ou devemos nós mesmos concluir, com o recente autor engenhoso, que esses princípios são extremamente insuficientes; e que eles não podem ser considerados, racionalmente, a não ser sobre os princípios de eletricidade? 8. Vamos, agora, descer para a terra, que nós pisamos, e que Deus tem, peculiarmente, dado aos filhos dos homens. Os filhos dos homens entendem isso? Suponha que o globo terrestre tenha sete ou oito mil milhas, em diâmetro, quanto disso, nós sabemos? Talvez, uma milha ou duas de sua superfície: Quão longe a arte do homem penetrou. Mas quem pode informar-nos o que pode ser encontrado abaixo da região das pedras, metais, minerais e outros fósseis? Essa é apenas uma crosta fina, que suporta uma proporção muito pequena do todo. Quem pode nos instruir com respeito às partes internas do globo? Do que essas consistem? Há um fogo central, um grande reservatório, o qual não apenas supre aos vulcões, mas também contribuem (embora não saibamos como) para o maturativo de gemas e metais; sim, e talvez, para a produção dos vegetais e o bem-estar de animais também? Ou está a grande profundeza ainda contida nas entranhas da terra? Um abismo central de águas. Quem viu? Quem pode dizer? Quem pode dar uma satisfação sólida para o inquiridor racional? 9. Quanto da mesma superfície do globo é ainda extremamente desconhecida para nós! Quão pouco, nós sabemos das regiões polares, norte e sul, da Europa ou Ásia! Quão pouco dessas vastas regiões, dos confins da África ou América! Bem menos, nós sabemos o que está contido no mar amplo. O grande abismo, que cobre a parte maior do globo. A maioria de suas cavidades é inacessível para o homem, de modo que nós não podemos dizer como elas são providas. Quão pouco nós sabemos dessas coisas sobre a terra firme, que cai diretamente sob nossa observação! Considerem mesmo os mais simples metais e pedras: Quão, imperfeitamente, nós estamos familiarizados com a maturidade e propriedades deles! Quem sabe o que é que distingue os metais de todos os outros fósseis? É respondido: "Eles são mais pesados". Muito verdadeiro; mas qual é a causa de eles serem mais pesados? Qual a diferença específica entre metais e pedras? Ou entre um metal e outro? Entre ouro e prata? Entre lata e chumbo? Ainda é tudo mistério para os filhos dos homens. 10. Continuemos com o reino dos vegetais. Quem pode demonstrar que a seiva, em qualquer vegetal, executa uma circulação regular através de suas artérias, ou que ela não faz isso? Quem pode indicar a diferença específica entre uma espécie de planta e outra? Ou a conformação e disposição, peculiar e interna, de suas partes componentes? Sim, que homem vivente compreende, completamente, a natureza e propriedades de qualquer uma planta debaixo do céu? 11. Com respeito aos animais: Os animais microscópicos, assim chamados, são realmente animais, ou não? Se eles são; eles não são, essencialmente, diferentes de todos os outros animais no universo, não requerendo alimento, não gerando ou sendo gerados? Eles não são animais, afinal, mas, meramente, partículas inanimadas de matéria, num estado de fermentação? Quão totalmente ignorante é a maioria dos homens mais sagazes, tocando o assunto da criação no seu todo! Mesmo a criação do homem. No livro do Criador, certamente, estavam todos nossos membros escritos, "os quais, dia a dia foram formados, quando ainda nenhum deles existia": Mas de que modo foi o primeiro gesto comunicado para o "punctum saliens?" Quando, e como, foi o espírito imortal adicionado ao barro inconsciente? É tudo mistério. E nós podemos apenas dizer: "Eu estou extraordinariamente, e maravilhosamente feito". 12. Com respeito aos insetos, muitas são as descobertas que têm sido recentemente feitas. Mas quão pouco ainda é tudo isso que foi descoberto, em comparação ao que se desconhece! Quantos milhões deles, por sua miudeza extrema, escapam totalmente de nossas investigações. E, de fato, as partes minúsculas dos maiores animais iludem nossas diligências extremas. Nós temos um conhecimento mais completo dos peixes do que temos dos insetos? A grande parte, se não a maior parte dos habitantes das águas estão, totalmente, ocultos de nós. É provável, que as espécies de animais marinhos sejam, tão numerosas, quanto as dos animais terrestres. Mas quão poucos deles são conhecidos para nós! E quão poucos sabemos dessa minoria. Com pássaros nós estamos um pouco mais familiarizados: mas, na verdade, é muito pouco ainda. Porque, de muitos, nós, mal e mal, sabemos alguma coisa mais, do que sua forma exterior. Algumas poucas propriedades óbvias, de outros, principalmente dos que freqüentem nossas casas. Mas não temos um conhecimento completo e adequado mesmo desses. Quão pouco nós sabemos de nossos animais! Nós não sabemos, por qual motivo, temperamentos e qualidades diferentes, surgem; não apenas, nas diferentes espécies deles, mas nos indivíduos da mesma espécie; sim, e, freqüentemente, naqueles que nascem dos mesmos pais, do mesmo macho, e fêmea animal. Eles são meras máquinas? Então, eles são incapazes de prazer ou dor. Não, eles podem não ter sentido algum; eles não vêem, nem ouvem; nem sentem o paladar, nem o odor. Tão pouco, eles podem, agora, lembrar-se ou mover-se, a não ser se forem impulsionados exteriormente. Mas tudo isso, como é mostrado, diariamente, é bem ao contrário, afinal. 13. Bem; mas, se nós conhecemos nada mais, nós conhecemos, pelo menos, a nós mesmos? Nossos corpos e almas? O que é nossa alma? É um espírito, nós sabemos. Mas o que é um espírito? Aqui nós estamos completamente bloqueados. E onde a alma habita? Na glândula pineal; no cérebro todo; no coração; no sangue; em alguma parte particular do corpo, ou (se alguém pode entender esses termos) "tudo em tudo", e em toda parte? Como a alma é unida ao corpo? Qual é o segredo, a corrente imperceptível que os une? Pode o mais sábio dos homens dar uma resposta satisfatória a qualquer uma dessas questões simples? Ó quão pouco conhecemos, mesmo no que concerne a toda criação de Deus? II. 1. Mas nós estamos mais familiarizados com suas obras de providência, do que com sua obra de criação? É um dos primeiros princípios da religião, que seu reino impere sobre tudo? De maneira que nós podemos dizer com confiança? "O, Senhor, nosso Governador, quão excelente é o teu nome sobre toda a terra!". É um conceito infantil, para supor que o acaso governa o mundo, ou tem alguma parte no governo dele: Não, nem mesmo, nessas coisas que, para o olho comum, parecem ser, perfeitamente, casuais. "A sorte está lançada à mão; mas o poder de dispor disso é de Deus". Nosso abençoado Mestre, ele mesmo tem colocado esse assunto além de qualquer dúvida possível: "Nem mesmo um pardal", disse ele, "cai ao chão, sem a vontade do Pai que está nos céus": "Sim", (para expressar a coisa mais fortemente ainda) "até mesmo os cabelos de sua cabeça são todos numerados". 2. Mas, embora nós sejamos bem informados dessa verdade geral, a de que todas as coisas são governadas pela providência de Deus; (a mesma linguagem do orador pagão, Deorum moderamine cuncta geri) "tratando da maneira como Deus governa tudo", quão espantosamente pouco, nós sabemos das particularidades contidas sob essa idéia! Quão pouco, nós entendemos de sua conduta divina, tanto com respeito às nações, ou famílias, ou indivíduos! Há alturas e profundidades em tudo isso em que nosso entendimento pode, de forma alguma, penetrar. Nós podemos compreender, a não ser uma pequena parte de seus métodos, agora; o restante nós devemos saber, daqui por diante. 3. Até mesmo, com respeito á nações inteiras; quão pouco, nós compreendemos dos procedimentos providenciais de Deus para com elas! Quais nações inumeráveis, no mundo oriental uma vez floresceram, para o terror ao redor delas, e estão agora varridas da face da terra; e a sua lembrança pereceu com elas! Nem foi ao contrário no mundo ocidental. Na Europa também, nós lemos sobre muitos reinos amplos e poderosos, dos quais apenas os nomes restaram: As pessoas desapareceram, e são como se nunca tivessem existido. Mas por que isso tem agradado ao Todo-Poderoso Governador do mundo varrê-los fora, com a vassoura da destruição, nós não sabemos; esses que os sucederam são, muitas vezes, pouco melhor do que eles mesmos. 4. Mas, não é apenas com respeito às antigas nações, que as administrações providenciais de Deus são extremamente incompreensíveis para nós. As mesmas dificuldades ocorrem agora. Nós não podemos responder pelos procedimentos presentes com os habitantes da terra. Nós sabemos que "o Senhor ama todo homem, e sua misericórdia é sobre toda as suas obras". Mas nós não sabemos como reconciliar isso com suas decisões divinas. Até hoje, não está a maior parte da terra repleta de escuridão e habitações cruéis? Em que condição, em particular, está o largo e populoso Império Indo-Europeu! Quantas centenas de milhares dessas pobres e tranqüilas pessoas têm sido destruídas, e suas carcaças deixadas como esterco para a terra! Em que condição (embora eles não tenham malfeitores ingleses lá) estão as incontáveis ilhas no Oceano Pacífico! Quão pequenas são suas condições sobre esses lobos e ursos! E quem se preocupa, seja com suas almas ou seus corpos? Mas o Pai de toda a humanidade não se preocupa com eles? Ó, mistério da providência! 5. E quem se preocupa com os milhares, miríades, se não milhões, de africanos miseráveis? Rebanhos inteiros destas pobres ovelhas (seres humanos; seres racionais!) não são, continuamente, conduzidos, para serem comercializados, e vendidos como gado, na escravidão mais vil, sem qualquer esperança de libertação, a não ser através da morte? Quem se preocupa com esses homens proscritos, os bem conhecidos africanos? É verdade, que um escritor, recentemente, tem tomado as dores deles para representá-los, como pessoas respeitáveis: Mas por que motivo, é difícil dizer; já que ele mesmo permite (como um exemplo da cultura deles), que os intestinos crus de ovelhas e outros gados sejam, não apenas, algumas das comidas escolhidas para eles, mas também o ornamento de seus braços e pernas; e (um exemplo da religião deles). que o filho não seja considerado um homem até que ele bata em sua própria mãe, quase à morte; e que, quando seu pai envelhece, ele o confina em uma pequena choupana, e o deixa lá, para morrer de fome! Ó, Pai, das misericórdias! Essas são as obras de tuas próprias mãos, a compra, através do sangue de teu Filho? 6. Quão pouco melhor é tanta a condição civil, quanto a religiosa dos pobres índios americanos! Ou seja, os poucos miseráveis que ainda restam deles: porque em algumas províncias, nenhum deles foi deixado para respirar. Na Espanha, quando os cristãos lá chegaram, havia três milhões de habitantes. Escassos, doze mil deles ainda sobrevivem hoje em dia. E em que condição eles estão, ou os outros índios, que ainda estão esparramados acima e abaixo, nos domínios do Continente Americano do Sul ou do Norte? Religião eles não têm; nem adoração pública de qualquer espécie! Deus não está em todos os seus pensamentos. E a maioria deles não tem governo civil, afinal; nem leis; nem magistrados; mas todo homem faz o que é direito aos seus próprios olhos. Entretanto, eles estão decrescendo, diariamente; e, muito provavelmente, em um século ou dois, não restará um deles. 7. Entretanto, os habitantes da Europa não estão, nessa condição tão deplorável. Eles estão em uma condição de civilização; eles ainda têm leis úteis, e são governados por magistrados; eles têm religião; eles são cristãos. Eu temo, se eles são chamados cristão ou não, já que muitos deles não têm religião. E o que dizer dos milhares habitantes da Lapônia, Finlândia, Samoa, e os da Groelândia? Na verdade, de todos aqueles que vivem nas latitudes norte? Eles são tão civilizados, quanto uma ovelha ou um boi? Compará-los com cavalos, ou quaisquer de nossos animais domésticos, isso poderia dar a eles muita honra! Acrescente a esses, miríades de selvagens humanos que estão tremendo de frio, entre as neves da Sibéria, tanto quanto, se não, em número maior, aqueles que estão perambulando, acima e abaixo, nos desertos da Tartária. Acrescente milhares sobre milhares de poloneses e moscovitas; e os assim chamados cristãos da Turquia, na Europa. E não só "Deus ama" esses, "mas deu seu Filho, seu único Filho, para que eles não perecessem e tivessem a vida eterna? Então, por que eles são assim?" Ó, maravilha sobre todas as maravilhas! 8. Não há, igualmente, alguma coisa misteriosa nos propósitos divinos, com respeito ao próprio Cristianismo? Quem pode explicar por que o Cristianismo não se espalha tanto quanto o pecado? Por que esse medicamento não é enviado a todos os lugares onde a enfermidade é encontrada? Mas, ai de mim! Não é: "O som dele" não adentrou ainda "em todas as terras". O veneno é difundido sobre todo o globo, mas o antídoto não é conhecido, pela sexta parte dele! Não! E como é que a sabedoria e bondade de Deus permitem que o próprio antídoto seja, tão gravemente, adulterado, não apenas nas regiões de Catolicismo Romano, mas em quase todas as partes do mundo cristão? Tão adulterado, por serem misturados, freqüentemente, com ingredientes desnecessários ou venenosos, que ele acaba retendo nada, ou, quando muito, apenas uma pequena parte de sua virtude original. Sim! Ele tem sido, assim adulterado, por muitas dessas mesmas pessoas, enviadas para ministrá-lo; de tal maneira, que ele acrescenta, dez vezes mais malignidade, às enfermidades, às quais ele foi designado para curar! Em conseqüência disso, há, bem menos, misericórdia ou verdade encontradas, no meio cristão, do que no meio pagão! Ao contrário, tem sido afirmado, e eu temo que, verdadeiramente, que muitos dos assim chamados cristãos são bem piores do que os pagãos que os rodeiam: são mais devassos, e mais abandonados a todo tipo de maldade; não temendo a Deus, nem ao homem! Ó, quem pode compreender isso! Será que aquele que é o ainda mais poderoso, do que o mais poderoso dos homens, vê isso? 9. Igualmente incompreensível para nós são os planos divinos, com respeito às famílias, em particular. Nós não podemos, afinal, compreender, por que é que para alguns ele ergue riqueza, honra e poder, e, nesse meio tempo, permite que outros vivam privações e aflições? Alguns, maravilhosamente, prosperam, em tudo que eles têm na mão, e o mundo aflui sobre eles; enquanto outros, com todo seu trabalho e labuta, podem, escassamente, conseguir o pão de cada dia. E, talvez, prosperidade e aplauso continuem com os primeiros, até a morte deles; enquanto, os últimos, beberão o copo da adversidade, até o fim de suas vidas, mesmo que nenhuma razão exista para nós que justifique, tanto a prosperidade de um, quanto a adversidade do outro. 10. E quão pouco, nós sabemos dos propósitos divinos, com respeito aos indivíduos. Por que uma grande quantidade desses homens é deixada, na Europa, e nos lugares ermos da América; por que alguns nascem de ricos e nobres, e outros, de pais pobres; por que o pai e mãe, de um, são fortes e saudáveis; e, os de outro, são fracos e doentes; em conseqüência disso, ele arrasta uma existência miserável, todos os dias de sua vida, exposto às necessidades, dores e milhares de tentações, das quais ele não encontra caminho para escapar? Quantos existem que, em sua própria infância, foram restringidos, por tais relações, de tal maneira, que eles parecem não ter chance (como alguns dizem), nem possibilidade de serem úteis a si mesmos ou a outros? Por que eles são emaranhados, nessas conexões, antes mesmo de suas próprias escolhas? Por que pessoas nocivas são colocadas, no caminho deles, sem que eles saibam, de que maneira, eles podem escapar delas? Por que as pessoas úteis são ocultadas de suas vistas, ou arrebatadas deles, no momento em que eles mais precisam? Meu Deus! Quão insondáveis são os teus julgamentos e deliberações! Muito profundos, para serem penetrados, por nossa razão; e, os meios, para executar tais deliberações, não são, para serem reconhecidos pela nossa sabedoria! III. 1. Nós somos capazes de procurar saber sobre as obras da graça, mais do que sobre as obras da providência? Nada é mais certo do que "sem santidade, nenhum homem verá ao Senhor". Então, por que a vasta maioria da humanidade, até onde, nós podemos julgar, pôs fim a todos os meios, e todas as possibilidades de santidade, até mesmo do útero de quem a gerou? Por exemplo: Qual a possibilidade que existe dos africanos, neozelandeses, ou dos habitantes da Nova-Zâmbia saberem, alguma vez, o que a palavra santidade significa? Ou, conseqüentemente, de alguma vez, obtê-la? Mas alguém pode dizer: "Ele pecou, antes de ele ter nascido, em uma condição pré-existente. Assim sendo, ele foi colocado aqui, em uma situação tão desfavorável. É apenas mera misericórdia que eles possam ter uma segunda chance". Eu respondo: Supondo-se que exista tal condição pré-existente, isso que você chama de segunda chance não é realmente uma chance, afinal. Tão logo, ele nasce, ele fica, absolutamente, no poder de seus pais e relações, selvagens; e que, pela mesma origem de raciocínio, educam-no, na mesma ignorância, ateísmo, e barbaridade, que eles mesmos. Ou seja, se ele não tem possibilidade de alguma outra educação melhor, que chance ele tem, então? Do momento em que ele nasce, até o momento em que ele morre, ele parece estar sob a necessidade terrível de viver na completa descrença e iniqüidade. Mas como é isso? Como esse pode ser o caso de tanto milhões de almas que Deus criou? Tu não és o Deus "de todos os confins da terra, e dos que permanecem nos amplos mares?". 2. Eu espero que possa ser observado que, se isso evoluir para uma objeção contra a revelação, essa será uma objeção que se coloca completamente contrária à religião natural, tanto quanto à religião revelada. Se isso fosse, conclusivo, poderia nos conduzir, não ao Deismo, mas ao Ateísmo claro. Não só concluiria contra a revelação cristã, mas contra a existência de Deus. E, ainda eu não vejo como nós podemos evitar a força disso, a não ser resolvendo tudo na sabedoria insondável de Deus, junto com a convicção mais profunda de nossa ignorância e inabilidade de penetrar em seus desígnios. 3. Mesmo entre nós, que somos muito mais favorecidos do que esses, e aos quais foram confiados os oráculos de Deus, cuja palavra é uma lanterna para nossos pés, e luz, em todos os nossos caminhos, existem ainda muitas circunstâncias, em Seus desígnios, as quais estão acima de nossa compreensão. Nós não sabemos por que ele permitiu que nós seguíssemos, em nossos próprios caminhos, tanto tempo, antes de sermos convencidos do pecado. Ou, por que ele fez uso desse ou daquele instrumento, dessa ou daquela maneira. E, milhares de circunstâncias atenderam o processo de nossa convicção, a qual nós não compreendemos. Nós não sabemos por que ele permitiu que nós permanecêssemos, tanto tempo, antes que ele revelasse seu Filho em nossos corações; ou por que essa mudança, da escuridão para a luz, foi acompanhada com tais e tais circunstâncias particulares. 4. Não há dúvida da prerrogativa peculiar de Deus para reter o "tempo e momento certo, em seu próprio poder". E nós não podemos dar razão alguma, por que, que de duas pessoas, sedentas por salvação, uma é presentemente levada, ao favor de Deus, e a outra é deixada pranteando, por meses ou anos. Por que, tão logo, uma clama a Deus, é respondida, e preenchida de paz e alegria, em acreditar; e a outra, que busca por ele, pelo que parece, com a mesma sinceridade e seriedade, ainda assim, não pode encontrá-lo, ou alguma consciência de seu favor, por semanas, meses, ou anos. Nós sabemos muito bem, que isso, possivelmente, não pode ser devido a algum grau absoluto, consignando, que, antes mesmo de ter nascido, uma pessoa seja conduzida para a glória, e a outra para o fogo eterno; mas nós não sabemos a razão para isso: É suficiente que Deus saiba! 5. Há, igualmente, grande variedade, na maneira e tempo de Deus conceder sua graça santificada, por meio da qual, ele capacita seus filhos a dar a Ele todo seu coração, e do que, nós não podemos, de modo algum, prestar contas. Nós não sabemos por que ele a concede, sobre alguns, antes que eles peçam por ela (alguns exemplos inquestionáveis, do qual nós temos visto); sobre outros, alguns poucos dias depois que eles buscaram; e ainda permite que outros crentes esperem, por ela, talvez, vinte, trinta, ou quarenta anos; não, e outros, até poucas horas, ou mesmo minutos, antes que seus espíritos retornem a ele. Por causa das várias circunstâncias também, que atendem o cumprimento daquela grande promessa, "eu irei circuncidar teu coração, para amar o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, e com toda a tua alma", Deus, indubitavelmente, tem razões; mas essas razões são geralmente ocultas dos filhos dos homens. Mais uma vez: alguns desses, que são capacitados para amar a Deus, com todo o coração deles, e com toda a sua alma, retém a mesma benção, sem interrupção alguma, até que sejam levados ao seio de Abraão; outros, não a retém, embora eles não estejam conscientes de que afligiram o Espírito Santo de Deus. Isso nós também não podemos entender: Nesse lugar, "nós não conhecemos a mente do Espírito". IV. Diversas lições valiosas nós podemos aprender da consciência profunda de nossa própria ignorância. Primeiro, a lição da humildade; não "pensar, em nós mesmos"; particularmente, com respeito ao nosso entendimento, "maior, do que nós devíamos considerar"; mas "pensar, sobriamente"; estando, completamente, convencido de que não é suficiente, de nós mesmos, ter um pensamento bom; já que nós podemos estar sujeitos a tropeços, em cada passo, a errar, todo o momento de nossas vidas, não fosse o que nós temos, "a unção do Espírito Santo", que habita "conosco"; não fosse Ele que conhece o que há no homem, socorrer nossas enfermidades; e que "há um espírito, no homem, que traz sabedoria", e a inspiração do Espírito Santo que "traz entendimento". Disso, nós podemos aprender, em Segundo Lugar, a lição da fé, da confiança em Deus. A convicção plena de nossa própria ignorância nos ensina a confiar, completamente, em sua sabedoria. Pode nos ensinar (o que não é sempre tão fácil, como alguém poderia conceber) a confiar no Deus invisível, muito além, do que se nós pudéssemos vê-lo! O que pode nos assistir, no aprendizado dessa lição difícil, é "subjugar" nossa própria "imaginação" (ou melhor, raciocínio, como a palavra, propriamente, significa); "subjugar todas as coisas que o exalte contra o conhecimento de Deus, e traga para a escravidão todo pensamento de obediência a Cristo". Há, até o momento, duas grandes obstruções, na nossa formação de um julgamento correto dos desígnios de Deus, com respeito ao homem. O primeiro, é que existem fatos inumeráveis, relacionados a todos os homens, os quais não sabemos, ou podemos saber. Eles estão, no momento, oculto de nós, e escondidos de nossa busca, pela escuridão impenetrável. O outro é que nós não podemos ver os pensamentos dos homens, mesmo quando nós conhecemos suas ações. Além do que, não conhecendo suas intenções; nós podemos apenas julgar, de maneira equivocada, as atitudes exteriores deles. Conscientes disso, "não julgar coisa alguma antes do tempo" concernente aos planos divinos Dele; até que Ele possa trazer para a luz "as coisas ocultas da escuridão", e manifeste "os pensamentos e intenções do coração". Da consciência de nossa própria ignorância, nós podemos aprender, em Terceiro Lugar, a lição da resignação. Nós podemos ser instruídos a dizer, todo o tempo, e em todas as instâncias, "Pai, não como eu desejo; mas como tu desejas". Essa é a última lição que nosso abençoado Senhor (como homem) aprendeu, enquanto ele estava na terra. Ele não pode ir mais alto, do que, "Não como eu desejo, mas como tu desejas", até que ele curvou sua cabeça e liberou a alma. Deixe-nos também, proceder, em conformidade com sua morte, para que possamos conhecer completamente, o "poder de sua ressurreição!".

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CHARLES C SPURGEON

Livre Arbítrio: Um Escravo C. H. Spurgeon Editado pela PES, s/data " Mas não quereis vir a mim para terdes vida" João 5:40 Este texto é usado pelos arminianos como uma das suas grandes armas e freqüentemente descarregada com um barulho terrível contra os pobres cristãos chamados calvinistas. Nesta manhã eu pretendo apontar a arma, ou melhor, vira-la contra os inimigos, porque ela nunca pertenceu a eles: jamais foi fabricada na forja deles. Pelo contrario, este texto intenciona ensinar a doutrina exatamente oposta àquela que eles sustentam. Geralmente quando o texto é empregado, ele é dividido desta forma: primeiro, o homem tem uma vontade. Segundo, ele é inteiramente livre. Terceiro, os homens tem que querer por sua própria vontade vir a Cristo, de outra maneira eles não serão salvos. Ora, nós não utilizaremos tais divisões, mas nós empenharemos em dar uma olhada no texto com mais precaução: e não porque existam nele as palavras "querer" ou "não querer", chegaremos à conclusão de que ele ensina a doutrina do livre-arbítrio. LIVRE-ARBÍTRIO É SIMPLESMENTE RIDÍCULO Já foi provado além de toda controvérsia que o livre-arbítrio é uma tolice. A liberdade não pode pertencer ao arbítrio como a ponderação não pode pertencer é eletricidade. Elas são coisas completamente diferentes Podemos crer em agente livre; porém o livre-arbítrio é simplesmente ridículo. É bem conhecido de todos que a vontade é dirigida pelo entendimento, movida por motivos, conduzida por outros componentes da alma e considerada como algo secundário. Tanto a filosofia como a religião, descartam de uma vez a idéia de livre-arbítrio; e eu vou tão longe quanto Marinho Lutero, em sua forte afirmação, onde ele diz:"se algum homem, de alguma maneira, atribuir a salvação ao livre-arbítrio do homem - mesmo a íntima parte - nada sabe sobre a graça e não conheceu Jesus Cristo corretamente". Pode parecer uma declaração severa; todavia, aquele que em sua alma crê que o homem faz o seu próprio livre-arbítrio voltar-se para Deus, não pode ter sido instruído por Deus, pois esse é um dos primeiros princípios que nos é ensinado quando Deus começa Sua obra em nós: não temos nem vontade nem poder, posto que Ele concede ambos; porquanto Ele é "o Alfa e o Ômega" na salvação do homem. Sumário Neste sermão nossos quatro pontos principais serão - Primeiro, todo homem está morto porque o texto diz: "mas não quereis vir a mim para terdes vida". Segundo, Há vida em Jesus Cristo - "...não quereis vir a mim para terdes vida". Terceiro, Há vida em Cristo Jesus para todo aquele que vem recebê-la" (...) "não quereis vir a mim para terdes vida". Isso implica em que todos que vão, terão vida. Quarto e o sentido do texto é: ninguém por si mesmo jamais virá a Cristo, pois o texto diz: "...não quereis vir a mim para terdes vida". Portanto, longe de afirmar que os homens por suas próprias vontades fariam tal coisa, o versículo nega-o categoricamente e diz: "NÃO QUEREIS vir a mim para terdes vida". Ora, amados, estou quase pronto a exclamar: será que os defensores do livre-arbítrio tem tão pouco conhecimento a ponto de desafiar a doutrina da inspiração? Estão destituídos de senso todos aqueles que negam a doutrina da graça? Tem se afastado tanto de Deus que torcem isto para provar o livre-arbítrio onde o texto diz: "... NÃO QUEREIS vir a mim para terdes vida"? NÃO HÁ VIDA NA MORTE 1. Primeiramente, então, nosso texto implica em que OS HOMENS POR NATUREZA ESTÃO MORTOS. Ninguém precisa ir à procura da vida se já tem vida em si mesmo. O texto fala muito fortemente quando declara: "...não quereis vir a mim para terdes vida". Apesar de não dizê-lo explicitamente, ele afirma, com efeito. que os homens precisam de uma vida que não tem em si mesmos. Meus ouvintes, nós todos estamos mortos, a não ser que tenhamos sido gerados para uma viva esperança. MORTE LEGAL - CONDENAÇÃO Todos nós estamos, por natureza, legalmente mortos: "no dia que dela comeres, certamente morrerás" disse Deus a Adão: embora ele não tenha morrido fisicamente naquele momento ele morreu legalmente: isto quer dizer que a morte foi decretada contra ele. Tão logo como no OId Bailey, o juiz veste a capa preta e pronuncia a sentença, o homem é considerado morto pela lei. Talvez possa passar um mês antes dele ser trazido ao patíbulo para sofrer a sentença da lei, no entanto, a lei o considera um homem morto. E lhe impossível fazer qualquer transação. Ele não pode herdar, nem legar seus bens: ele não é nada é um homem morto. O país, de maneira alguma, o considera como vivo. Há uma eleição - não lhe é pedido seu voto porque ele é considerado legalmente morto. Ele está trancado em sua cela de condenação e está morto. Ah, e vocês pecadores sem Deus, que nunca tiveram vida em Cristo, estão vivos nesta manhã, por adiamento, mas, será que não sabem que estão legalmente mortos: que Deus os considera como tais, que no dia que seu pai Adão comeu o fruto, e vocês próprios pecaram, Deus, o eterno Juiz, colocou sobre Si o gorro preto e os condenou? Vocês falam poderosamente de sua própria posição, bondade e moralidade: onde estão elas? As Escrituras dizem que vocês "já estão condenados". Não tem que esperar para serem condenados no dia do juízo final; ali será a execução da sentença estão condenados. No momento que pecaram, seus nomes foram escritos no livro negro da justiça: todos foram então sentenciados por Deus à morte, a não ser que tenham encontrado um substituto pelos seus pecados. na pessoa de Cristo. O que pensariam se fossem à prisão e vissem o condenado sentado, rindo e feliz? Vocês diriam: "o homem é um tolo, pois ele está condenado e será executado: no entanto, quão alegre ele está". Ah, e quão tolo é o homem mundano que, enquanto a sentença está sendo registrada contra ele, vive em divertimento e alegria! Vocês pensam que a sentença de Deus é sem efeito? Pensam que seu pecado que está gravado com ponteiro de aço nas rochas para sempre é isento de horrores? Deus disse que vocês já estão condenados. Se pudessem tão somente sentir isto, o amargor encheria as suas doces taças de gozo: suas danças parariam. O riso se extinguiria com um suspiro, se lembrassem de que já estão condenados. Todos nós deveríamos chorar, se compreendêssemos seriamente que por natureza não temos vida aos olhos de Deus. Estamos realmente condenados: a morte está decretada contra nós, e somos considerados aos olhos de Deus agora tão mortos como se já estivéssemos lançados no inferno: somos condenados agora pelo pecado, embora ainda não estejamos sofrendo a penalidade, porém, ela está escrita contra nós. Por isso estamos legalmente mortos. Não podemos encontrar vida, a não ser que encontremos vida legal na pessoa de Cristo. MORTE ESPIRITUAL - CADÁVER CAMINHANDO Mas, além de estarmos legalmente mortos, estamos também espiritualmente mortos. Isso porque a sentença não somente foi lavrada no livro, mas também no coração e entrou na consciência, operou na alma, no julgamento, na imaginação e em tudo: "...porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás", não somente foi cumprido pela sentença decretada, mas por algo que aconteceu em Adão. Assim como num dado momento futuro, quando este corpo morrer, o sangue parará, o pulso cessará e a respiração não virá mais pelos pulmões, assim também no dia em que Adão comeu do fruto, sua alma morreu: sua imaginação perdeu seu poder de ascender às coisas celestiais e ver o céu, sua vontade perdeu para sempre seu poder de escolher aquilo que é bom, seu julgamento perdeu toda a sua habilidade de julgar entre o certo e o errado decidida e infalivelmente, ainda assim algo foi retido na consciência: sua memória tomou-se corrompida, propensa a reter coisas pecaminosas, e a deixar as coisas virtuosas deslizarem para longe todo poder que ele tinha cessou quanto a sua vitalidade moral. A bondade era a vitalidade do seu poder - isso se foi. Virtude, santidade, integridade: estas eram a vida do homem, e quando elas se foram o homem tornou-se morto. E agora, todo homem, no que concerne as coisas espirituais, "está morto em delitos e pecados". A alma não esta menos morta num homem carnal do que o corpo quando depositado no túmulo: ela esta real e positivamente morta - não se trata de uma metáfora, pois Paulo não fala por metáforas quando afirma: "Ele vos vivificou estando vós mortos nos vossos delitos e pecados". Mas, meus ouvintes, oxalá eu pudesse pregar tudo aos seus corações a respeito deste assunto. Foi suficientemente ruim quando eu descrevi a morte como tendo sido decretada: porém, agora eu falo disso, como tendo de fato acontecido nos seus corações. Vocês não são o que eram antes: não são o que eram em Adão, nem o que foram gerados. O homem foi criado puro e santo. Vocês não são as criaturas perfeitas das quais alguns se gloriam, todos são totalmente caídos, todos se desviaram do caminho, tomando-se corruptos e sujos. Oh, não ouçam o canto da sereia daqueles que falam da dignidade moral e do elevado estado de vocês no tocante a salvação. Vocês não são perfeitos: a palavra tão forte - "ruína" - está escrito em seus corações: e a morte está selada em seus espíritos. Não imagine, ó homem moral. que poderá ficar de pé diante de Deus em sua moralidade, pois você não é mais do que uma carcaça embalsamada em legalismo, um defunto enfeitado em finas roupas, porém ainda corrupto na presença de Deus. E não pense, o possuidor de religião natural, que poderá pelo seu poder e forca fazer-se aceitável a Deus. Ó homem, você esta morto e poderá vestir a morte tão gloriosamente como quiser porém, ainda assim, isso seria uma farsa solene. Ali está a rainha Cleópatra - coloque sobre a sua cabeça a coroa vista-a com mantos reais, deixe-a sentar com pompa: mas, que calafrio você sente quando passa por ela. Hoje ela é bela, até na sua morte - mas quão terrível e ficar em pé junto desse corpo, mesmo que seja de uma rainha morta, tão celebre pela sua majestosa beleza! Portanto, você poderá ser glorioso em sua beleza, agradável, maravilhoso e bondoso! Você coloca a coroa de honestidade sobre a sua cabeça. Usando todas as vestes de honra, mas a não ser que Deus o tenha vivificado, o homem, a não ser que o Espírito tenha tratado com a sua alma, você é tão detestável aos olhos de Deus como o corpo frio lhe é repugnante. Você não escolheria viver com um morto assentado a sua mesa. E Deus não tem prazer em que você esteja diante de seus olhos. Ele Se ira com você todos os dias, pois esta em pecado - está morto. Oh. creia nisso, leve-o a serio! Aproprie-se disso, pois é bem verdade que está morto, tanto espiritualmente como legalmente. MORTE ETERNA NO INFERNO O terceiro tipo de morte é a consumação dos outros dois. É a morte eterna. É a execução da sentença legal; e a consumação da morte espiritual. A morte eterna e a morte da alma; isto acontece depois da morte física, após a alma ter saído do corpo. Se a morte legal e terrível e por causa das suas conseqüências; e se a morte espiritual e horrível, e por causa daquilo que acontecerá depois. As duas mortes da qual falamos são as raízes, mas a morte que advirá é a arvore em plena frutificação! Oh, se eu tivesse palavras para descrever a você neste momento o que é a morte eterna. A alma compareceu diante do seu Criador; o livro foi aberto; a sentença foi declarada: " apartai-vos malditos". O universo foi sacudido, e tomou as próprias galáxias obscurecidas com a desaprovação do Criador; a alma se foi as profundezas onde habitara com outras na morte eterna. Oh quão terrível e a sua posição agora. Seu leito é um leito de chamas: as visões que ela tem são horrendas horripilam-na; os sons que ouve são gritos, lamentações choros, e grunhidos; tudo que o seu corpo conhece é a imposição de dores lancinantes! Ele tem o inexprimível infortúnio da miséria não mitigada. A alma olha para baixo com medo e pavor; o remorso toma posse dela. Ela olha para sua direita. e as paredes inflexíveis da ruína a mantém dentro dos limites da tortura. Olha para sua esquerda, e ali o baluarte de fogo ardente impede a escalada de qualquer imaginado escape. Olha para dentro de si e ali procura por consolação, mas um verme torturante já penetrou nela. Ela olha em volta não tem amigos que a ajudem, nem consoladores, e sim atormentadores em abundância. Não conhece a esperança da libertação; já ouviu o eterno ferrolho do destino fechando a porta da terrível prisão, e viu Deus tomar a chave e jogá-la nas profundezas da eternidade para nunca mais ser achada. Sem esperança, desconhece escape, não conjectura libertação; suspira pelo fim, mas a morte é por demais um adversário para ali estar; deseja ardentemente que a não existência a possa tragar, mas esta morte eterna é pior do que o aniquilamento. Anseia pelo extermínio como trabalhador pelo seu dia de descanso; deseja profundamente que possa ser engolida pelo nada, assim como o escravo da galé deseja sua liberdade qual nunca chega. Está eternamente morta. Quando a eternidade tiver dado incontáveis voltas a alma perdida ainda estará morta. "Para todo o sempre" não conhecerá fim; a eternidade não pode ser soletrada a não ser na eternidade. No entanto, a alma vê assento sobre a sua cabeça; és maldita para sempre". Ela ouve gritos que serio perpétuos; as chamas que são inextinguíveis; conhece dores que não terão alivio; ouve uma sentença que não ruge como um trovão da terra que logo cessa porém, continua sempre e sempre, retinindo os ecos da eternidade - fazendo milhares de anos tremer outra vez com o terrível estrondo do seu pavoroso ruído; "Apartai! Apartai! Apartai malditos''! Isto é na verdade a morte eterna. VIDA EM CRISTO 2. Em segundo lugar HÁ VIDA EM CRISTO JESUS, pois Ele diz: "mas não quereis vir a mim para terdes vida". Não há vida em Deus pai para o pecador; não há vida em Deus Espírito para o pecador longe de Jesus. A vida do pecador está em Cristo. Se vocês tomarem o Pai a parte do Filho, apesar de amar Seus eleitos e decretar que eles viverão, no entanto, a vida só está em seu Filho. Se tomarem Deus Espírito a parte de Jesus Cristo, apesar de ser o Espírito que nos dá vida, espiritual, contudo a vida está em Cristo, a vida esta no Filho. Não nos atrevemos, não podemos requerer vida espiritual em primeiro lugar, nem de Deus Pai, ou de Deus Espírito Santo. A primeira coisa que somos levados a fazer quando Deus nos tira do Egito e comer a Páscoa - a primeiríssima coisa. Os primeiros meios pelos quais recebemos vida consiste em nos alimentar da carne e do sangue do Filho de Deus: vivendo nEle, confiando nEle, acreditando na Sua graça e poder. O pensamento que estamos desenvolvendo e: há vida em Cristo Jesus. Quero mostrar-lhes que há três tipos de vida em Cristo, assim como há três tipos de morte em conseqüência do pecado. VIDA LEGAL - SEM CONDENAÇÃO Primeiro existe vida legal em Cristo. Assim como todo homem por natureza, considerado em Adão, teve uma sentença de condenação que passou para ele no momento em que Adão pecou e, mais especificamente, no momento de sua própria transgressão, igualmente se formos crentes e confiarmos em Cristo, houve uma sentença legal de absolvição atribuída a nós através do que Jesus Cristo fez. Ó pecador condenado, você pode estar sentado aqui hoje tão condenado como o prisioneiro em Newgate (prisão na Inglaterra) mas antes deste dia terminar poder estar tão livre de culpa como os anjos lá do alto. Há uma tal coisa como uma vida legal em Cristo, e bendito seja Deus, alguns de nós a desfrutamos. Sabemos que os nossos pecados são perdoados porque Cristo sofreu o castigo por eles. Sabemos que nunca seremos punidos porque Cristo sofreu em nosso lugar. A Páscoa foi sacrificada a nosso favor: os umbrais e a verga das portas foram aspergidos, e o anjo destruidor nunca poderá nos tocar. Para nós não haverá inferno; suas chamas terríveis não nos alcançarão. Não importa que o Tofete tenha sido preparado desde há muito tempo, nem que sua pilha seja de madeira e haja muita fumaça, nunca iremos para lá - Cristo morreu por nós e em nosso lugar. Ainda que hajam horríveis tormentos, ou mesmo uma sentença que produza horrendas repercussões fragorosas, no entanto, nem tormento nem prisões, nem trovões são para nós! Em Cristo Jesus somos libertos agora. "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que andam não segundo a carne, mas, segundo o Espirito" (Rom. 8:1). Pecador, você se sente legalmente condenado neste momento? Sente isso? Então, deixe-me dizer-lhe que a fé em Cristo lhe dará o conhecimento de sua absolvição legal. Meu amigo, não e nenhuma fantasia o fato de estarmos condenados por nossos pecados, é uma realidade. Portanto, tampouco é fantasia que fomos absolvidos de nossos pecados, é também uma realidade. Um homem prestes a ser enforcado, se recebesse pleno perdão sentiria isso como uma grande realidade. Ele dirá: "eu recebi total perdão, agora não posso ser tocado". É assim mesmo que eu me sinto. "Agora livre do pecado eu ando em liberdade, O sangue do Salvador e minha completa absolvição, Aos Seus queridos pés eu me deito, Um pecador salvo, minha homenagem presto". Irmãos, nós ganhamos vida legal em Cristo, e tal vida não podemos perder. A sentença era contra nós no passado - agora tudo mudou. Esta escrito: "portanto, AGORA NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ PARA OS QUE ESTÃO EM CRISTO JESUS", e esse agora valerá para mim daqui a muitos anos, como o esta valendo hoje. Em qualquer tempo que estivermos vivendo, ainda estará escrito: "portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". VIDA ESPIRITUAL - DEFUNTO VIVIFICADO Então, em segundo lugar, há vida espiritual em Cristo Jesus. Visto que o homem está espiritualmente morto, Deus tem vida espiritual para ele, pois não há nenhuma necessidade que não possa ser suprida por Jesus; não há vazio no coração que Cristo não possa encher: não há um ermo que Ele não possa povoar, não há deserto que Ele não possa fazer florescer como a rosa. Ó pecadores mortos, espiritualmente mortos. há vida em Cristo Jesus, pois nós temos visto - sim, estes olhos viram - os mortos viverem de novo: nós conhecemos o homem cuja visão era carnal, cujas concupiscências eram poderosas, cujas paixões eram fortes, e que de repente, por um irresistível poder do céu. consagrou-se a Cristo, e tornou-se um filho de Deus. Sabemos que há vida em Cristo Jesus, vida de ordem espiritual; sim, mas nós mesmos, em nossas próprias pessoas, temos sentido que há uma vida espiritual. Bem que podemos nos lembrar quando nos sentamos na casa de oração, tão mortos como os bancos nos quais estávamos sentados. Havíamos ouvido por muito tempo o som do evangelho, porém, nenhum efeito se seguiu, quando de repente, como se os nossos ouvidos tivessem sido abertos pelos dedos de um poderoso anjo, um som entrou em nossos corações. Pensamos ter ouvido Jesus dizer: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" (Mat. 11:15). Um poder irresistível tocou nossos corações e espremeu deles uma oração. Nunca fizemos uma oração assim antes. Nós clamamos" Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" (Lc. 18:13). Alguns de nós sentimos a mão de Deus nos apertando durante meses, como se tivéssemos sido apanhados num torno, e as nossas almas sangraram gotas de angústia. Essa miséria era um sinal de vida que se iniciava. Quando as pessoas estão se afogando não sentem tanto a dor como quando estão sendo restauradas. Oh, podemos nos lembrar de quando recebemos a nossa vida espiritual, tão facilmente como pode um homem que fosse ressurrecto do túmulo. Podemos supor que Lázaro se lembrava da sua ressurreição, porem, não de todas as circunstancias dela. Portanto, apesar de termos nos esquecido de muitos detalhes, podemos nos lembrar de quando nos entregamos a Cristo. Podemos dizer a todo pecador, mesmo estando morto, que há vida em Cristo Jesus, ainda que ele esteja podre e corrupto em seu túmulo espiritual. Aquele que ressuscitou a Lázaro, também nos ressuscitou; e Ele pode dizer igualmente a você: "Lázaro, saia para fora''. VIDA ETERNA - NUNCA PERDIDO Em terceiro lugar, há vida eterna em Cristo Jesus. Meus amigos, se a morte eterna e terrível, a vida espiritual e abençoada; pois Ele disse, "Onde Eu estiver aí o meu servo estará"(João 12:26). "Pai, desejo que onde eu estiver também estejam comigo aqueles que me tens dado, para que vejam a minha glória" (João 17:24). "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão". (João 10:28). Ora, qualquer arminiano que pregasse sobre esse texto precisaria de lábios de borracha para esticar a sua boca, pois tenho certeza que ele não poderia falar toda a verdade sem se enrolar de um modo muito misterioso. Vida eterna - não uma vida que eles vão perder, mas vida eterna. Se eu perdi a vida em Adão, eu a ganhei em Cristo; se em Adão me perdi para sempre, em Cristo Jesus me encontro para sempre. Vida eterna! Oh, bendito pensamento! Nossos olhos reluzirão com gozo e nossas almas arderão em êxtase ao pensar que as nossas almas vão viver em alegria e gozo. Apaga seu olho, ó sol! - porém os meus olhos" verão o Rei na Sua formosura" quando esse olho solar nunca mais fizer sorrir a terra verde. E lua, toma-se em sangue! - porém o meu sangue jamais se tornará em nada; este meu espírito ainda existira quando você terá deixado de existir. E você grande mundo! - poderá desvanecer assim como a espuma desaparece de sobre a onda que a suporta, porém eu terei a vida eterna. Ó tempo! - você poderá ver montanhas gigantescas mortas ou escondidas em suas covas; poderá ver as estrelas como figos maduros caindo da árvore; mas nunca, jamais verá o meu espírito morto. DEUS SALVA A TODOS OS QUE VÊM 3. Isto nos traz ao terceiro ponto: A VIDA ETERNA É DADA A TODOS OS QUE VÊM EM SUA BUSCA. Nunca um homem veio a Cristo buscar vida eterna, legal e espiritual, que de certo modo não a tivesse recebido, e foi lhe manifestado de que a tinha recebido logo após ter vindo. Vamos considerar um ou dois textos. "Portanto pode também salvar perfeitamente os que por Ele se achegam a Deus" (Hb. 7:25). Todo homem que se achega a Cristo, verá que Ele é capaz de salvá-lo e, não apenas capaz de salvá-lo um pouco, libertá-lo de um pequeno pecado, livrá-lo de uma pequena tribulação, carrega-lo um pouco e depois deixá-lo cair - e sim capaz de salvá-lo até a máxima extensão do seu pecado, e de suas tribulações, até ao mais profundo das suas tristezas e ao extremo da sua existência. Cristo diz a todo o que vem a Ele: "Venha, pobre pecador, não precisa perguntar se tenho poder para salvar. Eu não perguntarei quão longe foi em seu pecado; Eu posso salvá-lo completa e perfeitamente". SOMENTE OS ESCOLHIDOS VIRÃO Agora vejamos outros textos: "Aquele que vem a mim (notem que as promessas são quase todas aos que vêm) de modo nenhum o lançarei fora"' (João 6:37). Todo homem que vem encontrará a porta da casa de Cristo aberta - e a porta do Seu coração também. Todo homem que vem - eu digo isto no mais amplo sentido - descobrirá que Cristo tem misericórdia dele. O maior absurdo do mundo e querer um evangelho mais amplo do que aquele registrado nas Escrituras. Eu proclamo que todo homem que crê será salvo - que todo homem que vem encontrara misericórdia. As pessoas me perguntam: mas, suponha que um homem venha sem ter sido escolhido, ele seria salvo? Você está supondo um absurdo, e eu não vou lhe dar uma resposta. Se um homem não for escolhido ele nunca virá. Quando ele vem é uma prova segura de que foi escolhido. Diz outro: "Suponha que alguém vá a Cristo que não tenha sido chamado pelo Espirito". Pare, meu amigo, essa e uma suposição que você não tem o direito de fazer, pois tal coisa não pode acontecer: você só diz isso para me enredar, mas não conseguirá isso. Eu digo, todo homem que vem a Cristo será salvo. Eu posso dizer isso como um calvinista, ou como um hiper-calvinista com toda a clareza possível. Não tenho evangelho que exceda em estreiteza ao que você tem só que o meu evangelho está alicerçado sobre um fundamento sólido, ao passo que o seu está construído somente sobre ardia e podridão. Todo homem que vem a Cristo será salvo, pois, homem nenhum virá a Ele "se o Pai não o trouxer". No entanto, diz alguém: "Suponha que o mundo todo viesse, Cristo o receberia?" Certamente, se todos viessem; mas eles não virão Eu digo, todos os que vem - sim, mesmo que eles fossem tão maus quanto os demônios, ainda assim Cristo os receberia; se eles tivessem todos os pecados e imundícies derramados nos seus corações, como dentro de um esgoto comum para o mundo todo, Cristo os receberia. EXPIAÇÃO UNIVERSAL, UMA MENTIRA Há quem argumente: "Eu quero saber sobre o restante das pessoas. Posso sair e dizer-lhes: Jesus Cristo morreu por cada um de vocês? Posso dizer que há vida para cada um de vocês?". Não. Não poderá. Você poderá dizer que há vida para cada homem que vem; contudo, se disser que há vida para aqueles que não crêem, então, profere uma mentira perigosa. Se você lhes disser que Jesus Cristo foi punido pelos seus pecados e assim mesmo se perderão, você fala uma falsidade deliberada. Pensar que Deus pode punir a Cristo, e depois punir a eles - eu admiro do seu atrevimento em dizer isso! Um homem uma vez estava pregando e afirmou que havia harpas e coroas no céu para toda a sua congregação; e depois terminou de uma maneira muito solene: " Meus queridos amigos, muitos para quem estas coisas estão preparadas não chegarão lá ''. De fato, a sua pregação foi uma coisa tão lamentável que era para fazer chorar mas eu lhes digo por quem ele deveria ter chorado - deveria ter chorado pelos anjos do céu e por todos os santos, pois isso estragaria completamente o céu para eles. Ouçam, meus irmãos, quando vocês se reunirem no Natal, se perderam seu irmão Davi, e o seu lugar está vazio, vocês dizem: "Bem, nós sempre desfrutamos do Natal, mas agora há um vazio - pobre Davi esta morto e sepultado!" Pensem nos anjos dizendo: "Ah, este é um céu maravilhoso, mas não gostamos de ver todas estas coroas aqui com teias de aranha! Não podemos suportar essa rua desabitada nem podemos olhar para esses tronos vazios"! E então, pobrezinhos, eles poderiam começar a falar uns com os outros, e dizer: "Nenhum de nós está a salvo aqui, pois a promessa foi - " Eu dou as minhas ovelhas a vida eterna", e há muitas delas no inferno, as quais Deus deu vida eterna também; há um número delas pelas quais Cristo derramou Seu sangue, queimando no abismo, e se elas podem ser mandadas para lá, Ele também pode nos mandar. Se não podemos confiar numa promessa, tampouco podemos confiar noutra". Portanto, o céu perderia o seu fundamento e cairia. Acabem com tal evangelho sem sentido! Deus nos da um evangelho seguro e sólido, construído sobre as promessas e relacionamentos da aliança, com propósitos eternos e cumprimentos seguros. NENHUM HOMEM DESEJA VIR 4. Isto nos traz ao quarto ponto. POR NATUREZA, NENHUM HOMEM QUER VIR A CRISTO, pois o texto diz: "Não quereis vir a mim para terdes vida". Eu afirmo sob a autoridade das Escrituras que não querem vir a Cristo para terem vida. Eu lhes digo, poderia pregar a vocês a vida toda e tomar emprestado a eloquência de Demóstenes ou de Cícero, mas vocês na desejariam vir a Cristo. Poderia lhes implorar de joelhos, com lágrimas nos meus olhos, e mostrar os horrores do inferno e o gozo do céu, como também expor a sua própria condição de perdido e a suficiência de Cristo, porém nenhum de vocês viria a Cristo por sua própria vontade, a não ser que o Espírito de Cristo o atraísse. E verdade que todos os homens, em sua condição natural, não virão Cristo. Parece que estou ouvindo outro destes faladores perguntando: "Mas, eles não poderiam vir se quisessem"? Meu amigo, vou lhe responder numa outra ocasião. Essa não é a questão neste momento. Eu estou falando sobre eles quererem, não sobre eles poderem. Você pode notar que quando se fala de livre-arbítrio, o pobre arminiano em dois segundos começa a falar de poder, e mistura dois assuntos que deveriam ser mantidos separados. Nós não trataremos de dois assuntos de uma só vez, pois nos recusamos a lutar com dois ao mesmo tempo. Em outra oportunidade pregaremos sobre este texto: "Ninguém pode vir a mim se o Pai não o trouxer". Entretanto, é só sobre a vontade que estamos falando agora, é certo que os homens não virão a Cristo para que tenham vida. Poderíamos provar isso com muitos textos das Escrituras, porém usaremos uma parábola. Vocês se lembram da parábola onde um certo rei deu uma festa para seu filho, e convidou muitos a festa; os bois e os cevados foram mortos, e ele enviou seus mensageiros a chamar muitos para a ceia. Eles foram a festa? Não, não foram. Todos eles, a uma só voz, começaram a se desculpar. Um disse que havia se casado, portanto não poderia vir. E o que impediria que ele trouxesse a esposa consigo? Outro comprou uma junta de bois, e foi experimentá-los; mas a festa foi a noite, e ele não poderia experimentá-los no escuro. Outro comprou um pedaço de terra e queria vê-la; mas eu não creio que ele fosse vê-la com uma lanterna. Assim, todos apresentaram desculpas e não quiseram vir. Bem, o rei estava determinado a realizar a festa; portanto, ele disse: "Vai às ruas e becos e convida-os - espere! não convide - obriga-os a entrar", pois mesmo os pobres das ruas nunca teriam vindo a não ser que fossem compelidos. Examinemos outra parábola. Um certo homem tinha uma vinha; no tempo determinado enviou um dos seus servos para receber o que lhe cabia do aforamento. O que fizeram com ele? Espancaram aquele servo. Ele enviou outro, e o apedrejaram. Enviou ainda outro, e o mataram. E por último ele disse: “Eu vou enviar-lhes o meu filho, a ele terão respeito". Mas o que foi que fizeram? Disseram: “Este e o herdeiro: vinde, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança". E assim fizeram. E o mesmo com todos os homens, por causa da sua natureza. O Filho de Deus veio: no entanto, os homens O rejeitaram." Não quereis vir a Mim para terdes vida". A QUEDA - ATÉ ONDE? Levaria muito tempo para mencionarmos outras provas das Escrituras. Vamos, no entanto, nos referir à grande doutrina da Queda. Qualquer pessoa que acredita que a vontade do homem é inteiramente livre, e que pode ser salva por meio dela, não acredita na Queda. Como, às vezes, tenho lhes dito: poucos pregadores acreditam plenamente na doutrina da Queda, ou então apenas acreditam que Adão, quando caiu, quebrou seu dedo mindinho, e não seu pescoço, arruinando assim a sua raça. Ora, amados, a Queda quebrou o homem completamente. Não deixou nenhuma capacidade inalterada; todas foram despedaçadas, degradadas e manchadas. Como um poderoso templo, os pilares podem estar ali, as colunas, até o pilar principal, mas, todos eles foram quebrados, ainda que alguns retenham suas formas e posições. Às vezes a consciência do homem retam muito a sua ternura - no entanto, esta caída. A vontade também não está isenta. Embora seja o maioral de Mansoul - conforme Bunyan o chama - o maioral erra. O senhor vontade - voluntarioso - estava continuamente errando. A natureza caída que vocês tem foi colocada fora de ordem; sua vontade, entre outras coisas, afastou-se completamente de Deus. Eu lhes direi que a melhor prova disso: é o grande fato de que nunca encontraram um cristão, em toda a sua vida, que dissesse que ele veio a Cristo, sem que antes Cristo tivesse vindo a ele. ORAÇÕES LIVRE-ARBÍTRIO - NÃO! Vocês tem ouvido muitos sermões arminianos, eu ouso dizer, mas nunca ouviram uma oração arminiana - pois os santos em oração se parecem iguais em palavra, ação e mente. Um arminiano de joelhos orará desesperadamente como um calvinista. Ele não pode orar a respeito do livre-arbítrio: não há lugar para isso. Imagine-o orando: "Senhor, eu Te agradeço que não sou como esses pobres calvinistas presunçosos. Senhor, eu nasci com um glorioso livre-arbítrio: eu nasci com poder pelo qual posso me voltar para Ti por conta própria; tenho melhorado minha graça. Se todos tivessem feito o mesmo que eu fiz com a Tua graça, poderiam todos ter sido salvos. Senhor, eu sei que Tu não nos fazes espiritualmente propensos se nós mesmos não queremos. Tu dás graça a todos; alguns não a melhoram, mas, eu sim. Haverá muitos que irão para o inferno, tantos quantos foram comprados pelo sangue de Cristo como eu fui; eles tinham tanto do Espírito Santo quanto me foi dado tiveram uma boa chance, e foram tão abençoados como eu sou. Não foi a Tua graça que nos diferenciou; eu sei que ela fez muito, mas eu cheguei ao ponto desejado; eu usei o que me foi dado e os outros não - essa e a diferença entre eu e eles". Essa é uma oração para o diabo, pois ninguém ofereceria tal oração. Ah, quando eles estão pregando e falando vagarosamente poderá haver doutrina errada: mas quando oram, a verdade escapa, eles não podem evitá-la. Se um homem fala muito devagar, ele poderá falar de modo refinado, porém, quando ele começa a falar depressa, o velho sotaque regional escapa. E lhes pergunto: alguma vez conheceram um cristão que dissesse," Eu vim a Cristo sem o poder do Espírito"? Se alguma vez encontraram tal homem, não precisam ter a menor hesitação em dizer: "Meu querido amigo, eu realmente admito isso - e acredito também que você se afastou dEle sem o poder do Espírito, que está em fel de amargura e no laço da iniquidade". Será que eu ouço um cristão dizendo: "Eu achei a Jesus antes que Ele me achasse; eu fui ao Espírito, e Ele não veio a mim"? Não, amados, somos obrigados; cada um de nós a colocar as mãos sobre os nossos corações e dizer: "A graça ensinou minha alma a orar, E fez meus olhos transbordar, Foi a graça que me guardou até este dia, E não me deixam escapar" Há alguém aqui - ao menos um - homem ou mulher, jovem ou velho, que possa dizer: "Eu procurei a Deus antes que Ele me procurasse"? Não, mesmo você que tende para o arminianismo cantara: " Oh sim! eu amo a Deus Porque Ele me amou primeiro". Então, mais uma pergunta. Porventura não descobrimos que, mesmo após termos vindo a Cristo, a nossa alma não está livre, e sim, está guardada por Cristo? Não descobrimos que até mesmo agora, há ocasiões quando o querer não está presente? Há uma lei em nossos membros guerreando contra a lei das nossa s mentes. Ora, se esses que estão espiritualmente vivos sentem que a sua vontade esta contraria a de Deus, o que dizer do homem que esta morto em delitos e pecados? Seria um absurdo maior colocar os dois no mesmo nível; e seria ainda mais absurdo fazer os mortos precederem os vivos. Não, o texto esta certo, a experiência o imprimiu em nossos corações: " Não quereis vir a mim para terdes vida". POR QUE NINGUÉM VEM Agora devemos dizer-lhes os motivos pelos quais os homens não vem a Cristo. O primeiro e: porque nenhum homem por natureza pensa que ele precisa de Cristo. Por natureza ele concebe que não precisa de Cristo; pensa que possui um manto de justiça própria, que está bem vestido, que não está nu, que não precisa do sangue de Cristo para lavá-lo, que não está preto ou vermelho e que não precisa da graça para purificá-lo. Nenhum homem conhece a sua necessidade antes que Deus a mostre a ele; e até que o Espírito Santo lhe revele a necessidade de perdão, nenhum homem buscará o perdão. Eu posso pregar Cristo para sempre, mas, a não ser que alguém sinta que quer a Cristo, nunca virá a Ele. Um farmacêutico pode ter uma boa farmácia, mas ninguém comprará seus remédios até que sinta que precisa deles. O motivo seguinte é: porque os homens gostam do modo pelo qual Cristo os salva. Um diz: " Eu não gosto porque Ele me torna santo; eu não posso beber ou blasfemar, se Ele me salvar". Outro diz: " Isto requer que eu seja tão exato e rígido, e eu gosto de um pouco mais de licença". Outro não gosta porque o" portão do céu" não é o suficiente alto para a sua cabeça, e ele não gosta de se agachar. Este é o motivo principal pelo qual vocês não virão a Cristo, porque não podem chegar a Ele com as suas cabeças firmemente levantadas no ar: pois Cristo os faz agacharem quando vocês vem. Outro não gosta que a salvação seja pela graça do começo ao fim. "Oh", ele diz: "se eu pudesse ter só um pouco de honra". Mas, quando ele ouve que tudo é Cristo. Cristo ou nada, um Cristo inteiro ou nada de Cristo, ele diz: " Eu não virei", vira-se então e vai embora. Ah, pecadores orgulhosos, vocês não virão a Cristo porque não conhecem nada sobre Ele. E esse é o terceiro motivo. Os homens não conhecem Seu valor, pois se o conhecessem, viriam para Ele. Porque os marinheiros não vieram para a América antes de Colombo? Porque não acreditavam que a América existia. Colombo tinha fé: portanto ele foi. Aquele que tem fé em Cristo vai a Ele. Todavia, vocês não conhecem a Jesus; muitos de vocês não viram Seu maravilhoso rosto; nunca viram o quanto Seu sangue é apropriado para um pecador, quão grande é a Sua expiação, e como Seus méritos são todos suficientes. Portanto" vocês não virão a Ele". SEM DESCULPA Oh, meus ouvintes, meu último pensamento e deveras solene. Já preguei que vocês não virão. Mas, alguns vão dizer: " É por causa dos nossos pecados que não estamos vindo". É isso mesmo. Vocês não vêm nem podem vir porque suas vontades são pecaminosas. Alguns pensam que" costura-mos almofadas para todas as cavas" quando pregamos esta doutrina, mas não o fazemos. Não vemos isto como sendo parte da natureza original do homem, porém, como pertencente à natureza decaída. É o pecado que os trouxe a esta condição, devido a qual não virão. Se não tivessem caído, viriam a Cristo no exato momento em que Ele fosse anunciado a vocês, mas não vêm por causa dos seus pecados e delitos. As pessoas se desculpam porque têm corações maus. Essa é a desculpa mais esfarrapada do mundo. Acaso o roubo e a ladroeira não provêm de um mau coração? Suponha que um ladrão dissesse ao juiz: " Eu não pude evitá-lo, eu tinha um mau coração". O que diria o juiz?" Patife! se seu coração é mau então farei a sentença mais pesada, pois de fato você é um vilão. Sua desculpa não e nada". O Todo-Poderoso vai rir deles, e os terá em escárnio. Nós não pregamos esta doutrina para desculpá-los, e sim para torná-los humildes. Possuir uma má natureza é tanto minha culpa como minha terrível calamidade. É um pecado que será cobrado do homem. Quando eles não vêm a Cristo é o pecado que os mantém afastados. Aquele que não prega isso, duvido que seja fiel a Deus e à sua própria consciência. Vai então para casa, meu amigo, com este pensamento: " Eu sou por natureza tão perverso que não virei a Cristo, e essa perversidade da minha natureza é o meu pecado. Eu mereço ser lançado ao inferno por isso". E se este pensamento não humilhar, o Espírito usando o mesmo, nada poderá fazê-lo. Na pregação de hoje eu não exaltei a natureza humana, porém rebaixei-a. Deus nos humilhe a todos. Amém! NOTA CONCLUSIVA DO PUBLICADOR Desde que este sermão foi pregado por Spurgeon no início do seu ministério (02 de dezembro de 1855 na Capela de New Park Street, Londres), alguns oponentes da doutrina da graça soberana têm tentado ensinar que posteriormente Spurgeon mudou seu ponto de vista sobre aquilo que foi exposto em " Livre-Arbítrio - Um Escravo". Isto é simplesmente um absurdo, como o confirmam as seguintes breves citações (que poderiam ser multiplicadas muitas vezes), extraídas do último volume dos seus sermões, os quais ele editou pessoalmente em 1891, no Metropolitan Tabernacle Pulpit. "Você não possui um vontade imparcial, ou inclinada para aquilo que é bom; você escolheu o mal e continua a escolhê-lo..." " Durante o tempo que quiser, você poderá exortar um homem cego a enxergar, porém ele não enxergará. O quanto quiser, você poderá exortar um homem morto a viver, porém ele não viverá somente através de sua exortação. Algo mais é necessário" (pp. 341-342 )." "A intenção de Deus era que Lídia fosse salva. No entanto, você sabe que nenhuma mulher foi salva contra sua vontade. Deus nos faz dispostos no dia do Seu poder, e a Sua graça não viola a vontade humana, mas triunfa docemente sobre ela. Nunca haverá alguém arrastado para o céu pelas orelhas: saiba disso. Nós iremos para lá de coração e porque desejamos" (p. 485).

CHARLES G FINNEY

O texto a seguir é de autoria de Charles G. Finney (1792-1875) e será apresentado em nove capítulos José Adelson de Noronha - 13.09.2004 joseadelson@aleluia.com.br Modificado e adaptado por Rafael Ferreira Silva - 15.12.2006 rafaelfdasilva@gmail.com Índice CAPÍTULO 1 - PODER DO ALTO CAPÍTULO 2 - O QUE VEM A SER? CAPÍTULO 3 - O REVESTIMENTO DO ESPÍRITO CAPÍTULO 4 - REVESTIMENTO DO PODER DO ALTO CAPÍTULO 5 - SERÁ "DURO ESTE DISCURSO?" CAPÍTULO 6 - ORAÇÃO VITORIOSA CAPÍTULO 7 - COMO GANHAR ALMAS CAPÍTULO 8 - COMO VENCER O PECADO CAPÍTULO 9 - PREGADOR, SALVA A TI MESMO Capítulo 1 - Poder do Alto Peço vênia para, através desta coluna, corrigir a impressão errônea recebida por alguns dos participantes do recente Concílio em Oberlin, do breve comentário que lhes fiz na manhã do sábado e, depois, no domingo. Na primeira dessas ocasiões, chamei a atenção dos presentes para a missão da Igreja, de fazer discípulos de todas as nações, de acordo com o registro de Mateus e de Lucas. Afirmei que essa incumbência foi dada por Cristo a toda a Igreja, da qual cada membro está na obrigação de fazer da conversão do mundo o trabalho a que dedique a sua vida. Levantei então duas questões: 1) de que necessitamos, para conseguir sucesso nessa obra imensa? 2) Como podemos obtê-lo? Resposta -- 1. Precisamos ser revestidos de poder do alto. Cristo anteriormente informara aos discípulos que, sem ele, nada podiam fazer. Quando os encarregou da conversão do mundo, acrescentou: "Permanecei, porém, na cidade (Jerusalém), até que do alto sejais revestidos de poder. Sereis batizados com o Espírito Santo não muito depois destes dias. Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai" (At 1:4,5). Esse batismo do Espírito Santo, a promessa do Pai, esse revestimento do poder do alto, Cristo informou-nos expressamente ser a condição indispensável para a realização da obra de que ele nos incumbiu. 2. Como havemos de obtê-lo? Cristo prometeu-o expressamente, a toda a Igreja e a cada pessoa cujo dever é trabalhar para conversão do mundo. Ele admoestou os primeiros discípulos a que não pusessem mãos à obra enquanto não recebessem esse revestimento de poder do alto. Tanto a promessa como a admoestação têm igual aplicação a todos os cristãos de todos os tempos e povos. Ninguém, em tempo algum, tem o direito de esperar bom êxito, se não obtiver primeiro o poder do alto. O exemplo dos primeiros discípulos ensina-nos como obter esse revestimento. Primeiramente consagraram-se a esse trabalho, continuando em oração e súplicas até que, no dia de Pentecoste, o Espírito Santo veio sobre eles e receberam o prometido revestimento do poder do alto. Eis, portanto, a maneira de obtê-lo. O Concílio pediu-me que dissesse mais sobre o assunto, razão pela qual, no domingo, tomei por texto a declaração de Cristo, de que o Pai está mais pronto a dar o Espírito Santo àqueles que lho pedirem, do que nós a darmos boas dádivas a nossos filhos. Disse a eles: 1. Este texto informa-nos que é sumamente fácil obter-se o Espírito Santo, ou seja, esse revestimento de poder da parte do Pai. 2. Isso se torna assunto constante de oração: todos o pedem, em todas as ocasiões; entretanto, à vista de tanta intercessão, é relativamente pequeno o número daqueles que, efetivamente, são revestidos desse Espírito do poder do alto! A lacuna não é preenchida: a falta de poder é assunto de constante reclamação. Cristo diz: "Todo o que pede recebe" (Mt 7:8), porém não há negar que existe um "grande abismo" entre o pedir e o receber, o que representa pedra de tropeço para muitos. Como, então, se explica essa discrepância? Tratei de mostrar por que muitas vezes não se recebe o revestimento. Eu disse a eles: 1) De modo geral, não estamos dispostos a ter aquilo que desejamos e pedimos; 2) Deus nos informa expressamente que, se contemplarmos a iniqüidade no coração, ele não nos ouvirá. Muitas vezes, porém, quem pede é complacente consigo mesmo; isso é iniqüidade, e Deus não o ouve; 3) é descaridoso; 4) é severo em seus julgamentos; 5) é autodependente; 6) repele a convicção de pecado; 7) recusa-se a fazer confissão a todas partes envolvidas; 8) recusa-se a fazer restituição às partes prejudicadas; 9) é cheio de preconceitos insinceros; 10) é ressentido; 11) tem espírito de vingança; 12) tem ambição mundana; 13) comprometeu-se em algum ponto e não quer dar o braço a torcer, ignora e rejeita maiores esclarecimentos; 14) defende indevidamente os interesses de sua denominação; 15) defende indevidamente os interesses da sua própria congregação; 16) resiste aos ensinos do Espírito Santo; 17) entristece o Espírito Santo com dissenção; 18) extingue o Espírito pela persistência em justificar o mal; 19) entristece-o pela falta de vigilância; 20) resiste-lhe dando largas ao mau gênio; 21) é incorreto nos negócios; 22) é impaciente para esperar no Senhor; 23) é egoísta de muitas formas; 24) é negligente na vida material, no estudo, na oração; 25) envolve-se demasiadamente com a vida material, e os estudos, faltando-lhe por isso tempo para oração; 26) não se consagra integralmente, e 27) o último e maior motivo, é a incredulidade: pede o revestimento, sem real esperança de recebê-lo. "Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso" (1 Jo 5:10). Esse, então, é o maior pecado de todos. Que insulto, que blasfêmia, acusar a Deus de mentir! Fui obrigado a concluir que, nesses e noutros pecados é que se encontra a razão de se receber tão pouco quando tanto se pede. Falei que não havia tempo para apresentar o outro lado da questão. Alguns dos irmãos perguntaram depois: "Qual é o outro lado?" O outro lado apresenta a certeza de que receberemos o prometido revestimento de poder do alto e seremos bem-sucedidos em ganhar almas, desde que peçamos e cumpramos as condições, claramente reveladas. da oração vitoriosa. Observe-se que o que eu disse no domingo versava sobre o mesmo assunto do dia anterior e era um aditamento a ele. O mal-entendido a que fiz alusão foi o seguinte: se primeiro nos desfizermos de todos esses pecados que nos impedem de receber o revestimento, não estaremos já de posse da bênção? De que mais precisamos? Resposta: há grande diferença entre a paz e o poder do Espírito Santo na alma. Os Discípulos eram cristãos antes do dia de Pentecoste e, como tais, possuíam certa medida do Espírito Santo. Forçosamente, tinham a paz resultante do perdão dos pecados e do estado de justificação, porém ainda não tinham o revestimento de poder necessário para desempenharem a obra que lhes fora atribuída. Tinham a paz que Cristo lhes dera, mas não o poder que lhes prometera. Isso pode se dar com todos os cristãos, e, a meu ver, está exatamente aí o grande erro da Igreja e do ministério: descansam na conversão e não buscam até obter esse revestimento de poder do alto. Resulta que tantos que professam a fé não têm poder nem com Deus nem com o homem. Não são vitoriosos, nem com um nem com o outro. Agarram-se a uma esperança em Cristo, chegando mesmo a ingressar no ministério, mas deixam de parte a admoestação a que esperem até que sejam revestidos do poder do alto. Mas, traga alguém todos os dízimos e todas as ofertas ao tesouro de Deus; deponha tudo sobre o altar, nisso prove a Deus, e verificará que Deus "abrirá as janelas do céu e derramará uma bênção tal que dela lhe advenha a maior abastança" (Ml 3:10). Capítulo 2 - O que Vem a Ser? Os apóstolos e irmãos, no dia de pentecoste, receberam-no. Mas o que receberam? Que poder exerceram depois daquele acontecimento? Receberam poderoso batismo do Espírito Santo, vasto incremento da iluminação divina. Esse batismo proporcionou grande diversidade de dons que foram usados para a realização da obra. Abrangia evidentemente os seguintes aspectos: o poder de uma vida santa; o poder de uma vida de abnegação (essas manifestações hão de ter tido grande influência sobre aqueles a quem proclamavam o evangelho); o poder da vida de quem leva a cruz; o poder de grande mansidão, que esse batismo os capacitou a evidenciar por toda parte; o poder do amor na proclamação do evangelho; o poder de ensinar: o poder de uma fé viva e cheia de amor; o dom de línguas; maior poder para operar milagres; o dom da inspiração, ou seja, a revelação de muitas verdades que antes não reconheciam; o poder da coragem moral para proclamar o evangelho e cumprir as recomendações de Cristo, custasse o que custasse. Nas circunstâncias em que os discípulos se achavam, todos esses poderes eram indispensáveis para seu sucesso. Contudo, nem separadamente nem todos em conjunto constituíam aquele poder do alto que Cristo prometera, e que eles evidentemente receberam. O que manifestamente lhes sobreveio, como meio supremo e de suprema importância para o sucesso, foi o poder para vencer e convencer, junto de Deus e dos homens: o poder de fixar impressões salvadoras na mente dos homens. Esse último é que foi sem dúvida o que eles entenderam que Cristo Ihes prometera. Ele encarregara a Igreja da missão de converter o mundo à sua Pessoa. Tudo que acima citei foram apenas os meios que jamais poderiam colimar o fim em vista, a não ser que fossem vivificados e se tornassem eficientes pelo poder de Deus. Os apóstolos, sem dúvida, entendiam isso, e, depondo a si mesmos e a tudo que possuíam sobre o altar. puseram cerco ao trono da graça no espírito de inteira consagração à obra. Receberam, de fato, os dons acima citados; mas, principalmente, esse poder de impressionar os homens para a salvação. Ele manifestou-se logo em seguida: começaram a dirigir-se à multidão e --maravilha das maravilhas! -- três mil converteram-se na mesma hora. Note-se, porém, que não foi manifestado por eles nenhum novo poder nessa ocasião, exceto o dom de línguas. Não operaram dessa feita nenhum milagre, e mesmo as línguas, usaram-nas simplesmente como meio de se fazerem entender. Note-se que ainda não tinham tido tempo para revelar dons do Espírito, além dos que mencionamos acima. Não tiveram naquela hora a oportunidade de mostrar uma vida santa, nem algumas das poderosas graças e dons do Espírito. O que foi dito na ocasião, conforme o registro bíblico, não podia ter causado a impressão que causou, se não fosse dito por eles com novo poder, a fim de produzir no povo uma impressão salvadora. Não se tratava do poder da inspiração, pois estavam apenas declarando certos fatos que eram de seu conhecimento. Não foi o poder da erudição e cultura humana, pois disso tinham muito pouco. Não foi o poder da eloqüência humana, pois disso tambêm não parece ter havido muito. Foi Deus falando neles e por meio deles. Foi o poder vindo do alto, sim, Deus neles, causando uma impressão salvadora naqueles a quem se dirigiam. Esse poder de impressionar os homens para a salvação permanecia com eles e sobre eles. Foi essa, sem dúvida, a promessa principal feita por Cristo e recebida pelos apóstolos e cristãos primitivos. Em maior ou menor medida, permanece na Igreja desde então. Trata-se de um fenônemo misterioso que muitas vezes se manifesta de modo surpreendente. Às vezes uma simples frase, uma palavra, um gesto, ou mesmo um olhar, transmite esse poder de maneira vitoriosa. Para honra exclusiva de Deus, contarei um pouco da minha própria experiência no assunto. Fui poderosamente convertido na manhã do dia 10 de outubro. À noitinha do mesmo dia, e na manhã do dia seguinte, recebi batismos irresistíveis do Espírito Santo, que me traspassaram, segundo me pareceu, corpo e alma. Imediatamente me achei revestido de tal poder do alto, que umas poucas palavras ditas aqui e ali a indivíduos provocavam a sua conversão imediata. Parecia que minhas palavras se fixavam como flechas farpadas na alma dos homens. Cortavam como espada; partiam como martelo os corações. Multidões podem confirmar isso. Muitas vezes uma palavra proferida, sem que disso eu me lembrasse, trazia convicção, resultando, em muitos casos, na conversão quase imediata. Algumas vezes me achava vazio desse poder: saía a fazer visitas e verificava que não causava nenhuma impressão salvadora. Exortava e orava, com o mesmo resultado. Separava então um dia para jejum e oração, temendo que o poder me houvesse deixado e indagando ansiosamente pela razão desse estado de vazio. Após ter-me humilhado e clamado por auxílio, o poder voltava sobre mim em todo o seu vigor. Tem sido essa a experiência da minha vida. Poderia encher um volume com a história da minha própria experiência e observação com respeito a esse poder do alto. É um fato que se pode perceber e observar, mas é um grande mistério. Tenho dito que, às vezes, um olhar encerra em si o poder de Deus. Muitas vezes o tenho presenciado. O seguinte fato serve de ilustração. Pregava pela primeira vez em uma vila manufatureira. Na manhã seguinte entrei em uma das fábricas para vê-la funcionar. Ao entrar no departamento de tecelagem, vi um grande número de moças e notei que algumas me olhavam, depois umas às outras, de um modo que indicava espírito frívolo e que me conheciam. Eu, porém, não conhecia nenhuma delas. Ao aproximar-me mais das que me tinham reconhecido, parecia que aumentavam suas manifestações de mente leviana. Sua leviandade impressionou-me; senti-a no íntimo. Parei e olhei-as, não sei de que maneira, pois minha mente estava absorta com o senso da sua culpa e do perigo que representavam. Ao firmar o olhar nas jovens, observei que uma delas se tornou muita agitada. Um fio partiu-se; ela tentou emendá-lo, porém suas mãos tremiam de tal forma que não pôde fazê-lo. Vi imediatamente que aquela sensação se espalhava, tornando-se geral entre aquele grupo. Olhei-as firmemente, até que uma após outras, entregavam-se e não davam mais atenção aos teares. Caíram de joelhos, e a influência se espalhou por todo o departamento. Eu não tinha proferido uma palavra sequer e, mesmo que o tivesse, o ruído dos teares não teria deixado que a ouvíssemos. Dentro de poucos minutos o trabalho ficou abandonado. Lágrimas e lamentações por todos os lados. Nesse instante entrou o dono da fábrica, que era incrédulo, acompanhado, creio, pelo superintendente, que professava a fé. Quando o dono viu o estado de cousas, disse ao superintendente: "Mande parar a fábrica". "É mais importante", acrescentou rapidamente, "a salvação dessas almas do que o funcionamento da fábrica". Assim que cessou o troar das máquinas, o dono perguntou; "Como faremos? Precisamos de um lugar de reunião, onde possamos receber instrução". O superintendente respondeu: "0 salão de fiação serve". Os fusos foram levantados para desocupar o lugar e toda a fábrica avisada para se reunir naquele salão. Tivemos uma reunião maravilhosa. Orei com eles e dei as instruções que na ocasião eram cabíveis. A palavra foi corn poder. Muitos manifestaram esperança naquele mesmo dia, e dentro de poucos dias. segundo fui informado, quase todos os trabalhadores daquele grande estabelecimento, inclusive o dono, criam em Cristo. Esse poder é uma grande maravilha! Muitas vezes já vi pessoas incapazes de suportar a palavra. As declarações mais simples e comuns cortavam os homens como espada, onde se achavam sentados, tirando-lhes a força física e tornando-os desamparados como mortos. Várias vezes já fiquei impossibilitado de levantar a voz, ou de falar em oração ou exortar a não ser de modo bem suave, sem dominar inteiramente os presentes. Não que eu pregasse de modo a aterrorizar o povo: os mais doces sons do evangelho os submergiam. Parece que às vezes esse poder permeia o ambiente das pessoas que o possuem. Muitas vezes em uma comunidade grande número de pessoas é revestido desse poder, e então toda a atmosfera do lugar parece ficar impregnada com a vida de Deus. Os estranhos que ali chegam de fora, de passagem pelo lugar, são, de repente, tomados de convicção de pecado e, em muitos casos, se convertem a Cristo. Quando os cristãos se humilham e consagram novamente a Cristo tudo o que possuem, pedindo então esse poder, recebem muitas vezes esse batismo e se tornam instrumentos da conversão de mais almas em um dia do que em toda a sua vida até então. Enquanto os crentes permanecem humildes bastante para continuar de posse desse poder, a obra da conversão prossegue até que comunidades e mesmo regiões inteiras se convertem a Cristo. O mesmo acontece com pastores. Mas este artigo já está bastante Iongo. Se me permitirem. terei mais que dizer sobre o assunto. Capítulo 3 - O Revestimento do Espírito Depois da publicação pelo Independent do meu artigo "O Poder do Alto", fiquei detido por prolongada enfermidade. Nesse interim recebi inúmeras cartas indagando sobre o assunto. Focalizam de modo geral três questões em particular: 1) Pedem novas ilustrações da manifestação desse poder. 2) Indagam: "Quem tem o direito de esperar semelhante revestimento?" 3) De que modo ou em que condições pode ser alcançado? Não me sendo possível responder pessoalmente às cartas, pretendo, com o vosso consentimento, e se a minha saúde continuar a melhorar, atendê-las através de breves artigos nesta coluna. Desta feita relatarei outra manifestação do poder do alto, conforme eu mesmo presenciei. Pouco tempo depois de ter sido licenciado para pregar, fui a uma reunião do país onde eu era completamente estranho. Fui a pedido de uma sociedade missionária feminina, localizada no condado de Oneida, Estado de Nova Iorque. Foi, se não me engano, em princípios de maio que visitei a vila de Antuérpia, na parte norte do condado de Jefferson. Fiquei no hotel da vila, e ali soube que, na ocasião, não se realizavam reuniões religiosas no lugar. Havia um salão de cultos, mas estava fechado. Mediante esforços pessoais, consegui reunir uma poucas pessoas na sala da residência de uma senhora crente e preguei-lhes a palavra na noite após a minha chegada. Ao andar pela vila, fiquei horrorizado com a linguagem blasfema que ouvia entre os homens por toda parte. Consegui licença para pregar no prédio da escola no domingo seguinte, porém antes que chegasse o domingo sentia-me desanimado, e quase aterrorizado, em virtude do estado em que se encontrava aquela comunidade. No sábado, o Senhor trouxe ao meu coração as seguintes palavras, dirigidas a Paulo pelo Senhor Jesus (At 18.9-10): "Não temas, mas fala e não te cales: porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade". Isso acalmou por completo os meus temores; mas o meu coração e stava cheio de ansiedade pelo povo. Na manhã de domingo levantei-me cedo e me refugiei num bosque fora da vila, a fim de derramar o coração diante de Deus suplicando-lhe uma bênção sobre os trabalhos do dia. Não pude exprimir em palavras a angústia da minha alma, mas lutei com gemidos e, creio, muitas lágrimas, durante uma ou duas horas, sem encontrar alívio. Voltei para o meu quarto no hotel, mas quase em seguida fui de novo para o bosque. Fiz isso por três vezes. Da última vez obtive completo alívio, já na hora da reunião. Fui para a escola e encontrei-a completamente lotada. Tirei minha pequena Bíblia do bolso e li este texto: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Expuz a bondade de Deus em contraste com a maneira pela qual ele é tratado por aqueles que amou e aos quais deu o seu Filho. Argüí os meus ouvintes pelas suas blasfêmias, e, reconhecendo entre eles vários cujas pragas eu ouvira pessoalmente, vom o coração cheio de ardor e com lágrimas nos olhos apontei-os, dizendo: "Ouvi esses homens rogarem de Deus pragas sobre seus companheiros." A Palavra teve efeito poderoso. Ninguém pareceu ofender-se, porém quase todos ficaram grandemente esternecidos. Terminado o culto, o bondoso dono, o Sr. Copeland, levantou-se e disse que à tarde abriria a casa de oraç ão. Assim fez, e a casa esteve repleta, e, como pela manhã, a Palavra operou com muito poder. Assim começou poderoso avivamento na vila, o qual, pouco depois, espalhou-se em todas as direções. Creio que foi no segundo domingo depois desse, que, ao descer do púlpito à tarde, um senhor de idade me procurou e disse: "0 senhor não poderia pregar em nossa localidade? Nunca tivemos ali reuniões religiosas". Informei-me da direção e da distância, e combinei de pregar lá na tarde seguinte, segunda-feira, ás cinco horas, na escola. No domingo eu pregara três vezes na vila e assistira duas reuniões de oração; na segunda-feira fui a pé cumprir esse compromisso. Fazia bastante calor, e antes de chegar, comecei a sentir-me fraco para andar e com grande desalento de espírito. Sentei-me debaixo de uma sombra, à beira do caminho, sentindo-me fraco para chegar ao destino e, mesmo que chegasse, desanimado para abrir a boca diante do povo. Quando enfim cheguei, encontrei a casa repleta. Comecei em seguida o culto, anunciando um hino. Tentaram cantar, porém a terrível desarmonia causou-me verdadeira angústia. Inclinei-me para frente, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as máos sobre os ouvidos, e ainda sacudia a cabeça, procurando excluir a dissonância que, mesmo assim, a custo suportei. Quando pararam de cantar, lancei-me de joelhos, em estado de quase desespero. Até esse momento não tinha nenhuma idéia de que texto usaria na pregação. Ao levantar-me da oração, o Senhor me deu este: "Levantai-vos, e saí deste lugar. porque o Senhor há de destruir a cidade". Falei ao povo, o mais aproximadamente que pude recordar, onde se encontrava o texto na Biblia, e prossegui contando-lhes da destruição de Sodoma. Esbocei a história de Abraão e Ló; de seus tratos um com o outro; de como Abraão orou por Sodoma; de Ló, o único homem piedoso achado na cidade. Enquanto isso, notei que a fisionomia dos presentes demonstrava que estavam muito zangados comigo; assumiam mesmo aspecto ameaçador, e alguns dos homens perto de mim pareciam que iam me bater. Eu não entendia isso, pois estava apenas dando, e isso com grande liberdade de espírito, alguns esboços interessantes da história bíblica. Assim que terminei o esboço histórico, voltei-me ao povo e disse-lhes que eu entendia que nunca tinham tido reuniões religiosas naquela vizinhança. Aplicando esse fato, golpeei-os com toda a força com a espada do Espírito. A partir desse momento a seriedade do ambiente foi aumentando rapidamente. Daí a pouco pareceu cair sobre a congregação um choque instantâneo. Não posso descrever a sensação que tive, nem a que se manifestava na congregação, mas parecia que palavra, literalmente, cortava como espada. O poder do alto veio sobre eles numa torrente tal, que caíam dos bancos em todas as direções. Dentro de um minuto em quase toda a congregação estavam, ou de joelhos, prostrados no chão, ou em alguma posição de humildade diante de Deus. Cada qual clamava ou gemia rogando a misericórdia divina para sua alma. Não davam mais atenção a mim ou à minha pregação. Procurei ganhar a sua atenção, mas não consegui. Observei o senhor de idade que me tinha convidado, sentado ainda, perto do meio do auditório. Olhava em redor, atônito, com os olhos quase saltando das órbitas. Apontando para ele, gritei com toda a força: "O senhor não pode orar?" Ele ajoelhou-se e berrou uma breve oração, o mais alto que pôde: mas ninguém Ihe deu ateneção. Depois de ter olhado em volta de mim alguns momentos, ajoelhei-me, coloquei a mão sobre a cabeça de um jovem que estava ajoelhado aos meus pés e comecei a orar pela sua alma. Obtive sua atenção e, falando-lhe ao ouvido, preguei-lhe Jesus. Dentro de poucos momentos ele se entregou a Jesus pela fé, e então irrompeu em oração a favor dos que estavam ao seu redor. Voltei-me então a outro, do mesmo modo, e com o mesmo resultado; depois outro, e outro, até que não sei quantos se tinham entregado a Cristo e oravam fervorosamente pelos demais. Depois de ter continuado assim até o cair da tarde, fui obrigado a entregar a reunião ao senhor de idade que me convidara, para atender aum compromisso que tinha assumido em outro local. À tarde do dia seguinte fui chamado para voltar, pois não tinham conseguido dispersar a reunião. Tiveram que deixar a casa da escola para dar lugar às aulas, mas transferiram-se para uma residência próxima, onde encontrei uma porção de pessoas que ainda estavam demasiadamente ansiosas e oprimidas pela convicção de pecados. Por isso não podiam voltar para casa. Foram logo acalmadas pela Palavra de Deus, e creio que todas obtiveram a esperança em Cristo antes de ir para casa. Nota: eu era totalmente estranho naquele lugar. Nunca o tinha visto nem dele ouvira falar, conforme relatei. Mas agora, na segunda visita, fiquei sabendo que o lugar era chamado de Sodoma, por causa da sua impiedade, e que o senhor de idade que me convidara era chamado de Ló pelo fato de ser a única pessoa do lugar que professava religião. Dessa maneira o avivamento irrompeu nessa região. Faz muitos anos que não volto lá; mas em 1856, me parece, quando fazia um trabalho em Siracusa, Nova Iorque, fui apresentado a um ministro de Cristo do condado de São Lourenço, de nome Cross. Ele me disse: "Sr. Finney, o senhor não me conhece; mas lembra-se de ter pregado num !ugar chamado Sodoma?" "Jamais me esquecerei", respondi. "Pois eu era jovem nessa ocasião", disse ele, "e me converti naquela reunião." Ele ainda vive; é pastor de uma das igrejas daquele condado, e é pai do superintendente do nosso departamento preparatório. Os que moram na região testificam dos resultados permanentes daquele abençoado avivamento. O que pude descrever em palavras dá apenas uma pálida idéia daquela extraordinária manifestação do poder do alto que acompanhou a pregação da Palavra. Capítulo 4 - Revestimento do Poder do Alto Neste artigo pretendo estudar as condições sob as quais podemos obter o revestimento de poder. Tomemos informações nas Escrituras. Não pretendo encher este jornal de citações da Biblia, mas simplesmente registrar alguns fatos que serão logo reconhecidos por todos os leitores das Escrituras. Se os leitores do presente artigo quiserem conhecer, no último capítulo de Mateus e de Lucas, a incumbência que Cristo deu aos discípulos, e, ainda, os dois primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos, estarão prontos para apreciar o que vou dizer neste artigo. 1) Os discípulos já estavam convertidos a Cristo, e tiveram confirmada a sua fé pela ressurreição de Jesus. Nesta altura, porém, devo esclarecer que a conversão a Cristo não deve ser confundida com a consagração à grande obra da conversão do mundo. Na conversão, a pessoa trata direta e pessoalmente com Cristo. Abre mão dos seus preconceitos, antagonismos, justiça própria, incredulidade e egoísmo. Aceita Cristo, confia nele e a ele ama acima de tudo. Tudo isso os discípulos tinham feito, uns mais claramente, outros, menos. Ainda não tinham recebido, porém, nenhuma incumbência precisa, nem tampouco qualquer revestimento especial de poder para desempenharem uma incumbência. 2) Depois, porém, que Cristo dissipou o desnorteamento que lhes resultara da crucificação de Jesus e confirmou sua fé por meio de repetidos encontros com eles. deu-lhes a grande incumbência de ganhar para ele todas as nações. Admoestou-os, porém, a que aguardassem em Jerusalém até que fossem revestidos de poder do alto, o que, disse ele, haviam de receber dentro de poucos dias. Observemos agora o que fizeram. Reuniram-se, homens e mulheres, para orar. Aceitaram a incumbência, chegando, sem dúvida, à compreensão da natureza do encargo e da necessidade do revestimento espiritual que Cristo lhes prometera. Ao continuarem, dia após dia, em oração e conferência, chegaram, sem dúvida, a apreciar cada vez mais as dificuldades que os haviam de cercar, e a sentir cada vez mais a sua própria insuficiência para a tarefa. Se examinarmos as circunstãncias e os seus resultados. chegaremos à conclusão de que eles, sem exceção, se consagraram e tudo quanto tinham para a conversão do mundo, como sendo esta a tarefa da vida. Abandonaram totalmente a idêia de viverem para si mesmos, e se dedicaram com todas as forças à obra que lhes fora confiada. Essa consagração de si mesmos à obra, essa auto-renúncia, esse morrer para tudo quanto o mundo lhes pudesse oferecer, forçosamente precedeu a busca inteligente do prometido revestimento de poder do alto. Continuaram então, de comum acordo, em oração pelo prometido batismo do Espírito, que abrangia tudo quanto era essencial ao bom êxito. Nota. Eles tinham diante de si uma obra a realizar. Tinham uma promessa de poder para que a pudessem desempenhar. Foram admoestados a esperar até que a promessa se cumprisse. Como esperaram? Não na indiferença e inatividade; não em preparativos, por meio de estudos e outros recursos, visando dispensar o poder prometido; não entregando-se aos afazeres normais e fazendo de vez em quando uma oração pedindo que cumprisse a promessa; ao contrário, permaneceram em oração e persistiram no pedido até que veio a resposta. Compreendiam que seria um batismo do Espírito Santo. Sabiam que viria da parte de Cristo. Oraram com fé. Aguardaram na mais firme expectativa, até o revestimento. Deixemos, pois, que esses fatos nos instruam quanto às condições para se receber o revestimento de poder. Nós, como cristãos, temos a mesma incumbência. Tanto quanto aqueles discípulos, necessitamos do revestimento de poder do alto. Evidentemente a mesma ordem nos é dada, de esperarmos em Deus até que o recebamos. Temos a mesma promessa que eles tinham: tomemos, pois, essencialmente e em espírito, o mesmo caminho que tomaram. Eles eram crentes e tinham certa medida do Espírito para guiá-los na oração e na consagração. Nós também o temos. Todo crente possui uma certa medida do Espírito de Cristo, o suficiente do Santo Espírito para nos levar à verdadeira consagração e nos inspirar com a fé que é essencial para a vitória na oração. Deixemos, pois, de entristecê-Io ou resistir-lhe: aceitemos a incumbência, consagrando-nos integralmente, com tudo quanto possuímos, à salvação de almas, como o nosso grande e único trabalho na vida. Coloquemo-nos sobre o altar, como tudo que temos e somos, ali permanecendo e persistindo na oração até que recebamos o revestimento. Quero reafirmar que a conversão a Cristo não deve ser confundida com a aceitação dessa incumbência de salvar o mundo. Aquela é uma transação pessoal entre a alma e Cristo, tratando da própria salvação; esta é a aceitação do serviço em que Cristo se propõe a ocupar-nos. E Cristo não nos exige a confecção de tijolos sem nos fornecer a palha necessária. Àquele a quem ele dá a incumbência, dá também a admoestação e a promessa. Se de coração aceitarmos o serviço, crermos na promessa e atendermos à admoestação a que esperemos no Senhor até que a nossa força seja renovada, havemos de receber o revestimento. É da mais absoluta importância que compreendamos que cada crente individualmente recebe de Cristo o encargo de conquistar o mundo. Todos nós temos sobre os ombros a grande responsabilidade de ganhar para Cristo o maior número possível de almas. É esse o grande privilégio e dever de todos os discípulos de Cristo. Há vários setores nesse trabalho, mas para todos eles podemos e devemos possuir poder, para que, quer preguemos ou oremos, escrevamos ou publiquemos, negociemos, viajemos, cuidemos de crianças ou administremos o governo do Estado, seja qual for a nossa ocupação, toda a nossa vida e influência sejam repletas desse poder. Cristo declara: "Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva"; quer dizer, que dele procederá uma influência cristã, tendo em si o fator do poder para levar a impressão da verdade de Cristo ao coração dos homens. A grande carência da Igreja atualmente é, primeiro, a convicção profunda de que essa incumbência de ganhar o mundo é dada a cada um dos discípulos de Cristo como a tarefa a realizar na vida. É lamentável termos de dizer que a grande massa dos cristãos professos, segundo parece, nunca se impressionou com essa verdade. O trabalho de salvar almas deixam-no por conta dos ministros. A segunda grande carência é a convicção profunda da necessidade desse revestimento de poder sobre cada um individualmente. Muitos que professam a fé imaginam que isso é apenas para aqueles que são chamados para a carreira ministerial. Deixam de compreender que todos são chamados a pregar o evangelho; que a vida inteira de cada cristão deve ser uma proclamação das boas-novas. Falta, em terceiro lugar. uma fé sincera na promessa desse revestimento. Vasto número de crentes professos, e até mesmos pastores, parece duvidar que a promessa seja realmente para toda a Igreja. Se não pertence a todos, eles não sabem a quem pertence. Evidentemente não podem reclamar a promessa pela fé. Em quarto lugar, falta aquela perseverança em esperar em Deus, que as Escrituras recomendam. Desfalecem antes de obter a vitória, e, por conseguinte. deixam de receber o revestimento. Multidões, ao que parece, satisfazem-se com a esperança da vida eterna. Nunca deixam para trás a questão da própria salvação, entregue a Cristo como assunto liquidado. Não aceitam a grande incumbência de trabalhar para a salvação de outros, porque a sua fé é tão fraca que não abandonam confiantemente nas mãos de Cristo a questão da própria salvação. Até mesmo ministros do evangelho, segundo tenho observado, estão no mesmo caso e coxeando do mesmo modo, incapazes de se entregarem completamente ao trabalho de salvar outros, porque, até certo ponto, estão inseguros quanto à própria salvação. É simplesmente espantoso a que ponto a lgreja tem praticamente perdido de vista a necessidade desse revestimento de poder. Quase todos afirmam que somos dependentes do Espírito Santo, porém essa dependência é muito pouco apreciada. Crentes e até mesmo pastores põem-se a trabalhar sem ele. Lastimo ser obrigado a dizer que as fileiras do ministério, ao que parece, estão-se enchendo de homens que o não possuem. Que o Senhor tenha misericórdia de nós! Será julgada descaridosa essa última afirmativa? Se for, ouçamos, por exemplo, o relatório da Sociedade de Missões Internas, sobre o assunto. Não se há de negar que alguma cousa está mal. A média de cinco almas ganhas para Cristo por missionário daquela sociedade em um ano de trabaIho, indica inegavelmente uma fraqueza alarmante no ministério. Será que todos, ou mesmo a maioria, desses ministros foram revestidos do poder que Cristo prometeu? Se não o foram, qual a razão? Se o foram, foi só isso que Cristo pretendeu pela sua promessa? Em artigo anterior afirmei que o recebimento desse poder é um fato instantâneo. Não quero com isso dizer que, em todos os casos, a pessoa que o recebeu ficou ciente da hora exata em que o poder começou a operar poderosamente em seu ser. Pode ter começado como o orvalho e aumentado até tornar-se uma chuva. Fiz referência ao relatório da Sociedade de Missões Internas, não que eu imagine que os irmãos que trabalham naquela sociedade sejam excepcionalmente fracos em fé e poder como obreiros de Deus. Pelo contrário, baseado no meu conhecimento pessoal de alguns deles, considero-os entre os mais consagrados e abnegados obreiros da causa de Deus. Esse fato ilustra a assustadora fraqueza que existe em todos os ramos da Igreja, tanto o clero como os leigos. Então não somos fracos? -- criminosamente fracos? Talvez alguém pense que, escrevendo desta maneira, ofenderei o ministério e a Igreja. Não posso crer que o registro de fato tão palpável seja considerado ofensa. A verdade é que alguma cousa está lamentavelmente deficiente na educação do ministério e da Igreja. O ministério está fraco, porque a Igreja está fraca. E a Igreja conserva-se fraca pela fraqueza do ministério. Tomara houvesse a convicção da necessidade desse revestimento de poder e da fé na promessa de Cristo! Capítulo 5 - Será "Duro Este Discurso?" Em artigo anterior afirmei que a falta do revestimento de poder do alto devia ser considerada prova de inaptidão para o pastor, o diácono ou o presbítero; o superintendente de Escola Dominical, o professor de colégio cristão, e principalmente para o professor de seminário teológico. Será "duro esse discurso"? Será uma palavra descaridosa? Será injusta? Será imoderada? Estará em desacordo com as Escrituras? Suponhamos que, no dia de Pentecoste, um dos apóstolos ou dos demais discípulos presentes tivesse deixado, por apatia, egoísmo. incredulidade, indolência ou ignorância, de obter esse revestimento de poder. Seria então descaridoso, injusto, imoderado ou antíblblico, que ele fosse tido por inapto para a obra da qual Cristo os encarregara? Cristo Ihes dissera expressamente que, sem esse revestimento, nada podiam fazer. Tinha-lhes recomendado taxativamente que não o tentassem com as próprias forças, mas que esperassem em Jerusalém até receber o necessário poder do alto. Prometera, com igual clareza, que, se permanecessem conforme a sua recomendação, haviam de recebê-lo "dentro de poucos dias". Evidentemente entenderam a recomendação no sentido de esperarem continuamente no Senhor em oração e súplica pela bénção. Ora, suponhamos que algum deles se ausentasse, para cuidar de seus negócios, contando com a soberania de Deus para outorgar-lhe esse poder. Fatalmente teria ficado inapto para o trabalho: e se assim fosse considerado pelos irmãos e companheiros que obtiveram o poder, teria isso sido descaridoso, injusto ou em desacordo com as Escrituras? E não é verdade, para todos que recebem a ordem de fazer discípulos, e a promessa do poder, que, se por alguma falta ou falha, deixarem de receber o dom, estão de fato desclassificados para a obra, e principalmente para qualqucr cargo oficial? Não estão, de fato, desabonados para ministrar as ordenanças da lgreja? Ou estão credenciados para ensinar aqueles que deverão fazer o trabalho? Se é verdade que lhes falta poder, seja qual for a explicação da deficiência, é igualmente verdade que não estão aptos para ensinar o povo de Deus: e se é reconhecido que são inaptos porque Ihes falta poder, há de ser razoável, certo e bíblico assim considerá-los, falar deles e assim tratá-los. Quem tem direito de se queixar? Por certo que eles não têm. Deve a Igreja de Deus tolerar ensinadores e líderes a quem falta esse requisito fundamental, quando essa falta é forçosamente culpa deles? É verdadeiramente de estarrecer a manifesta apatia, indolência. ignorância e incredulidade que existem nesse assunto. São indesculpáveis e altamente criminosas. Com a ordem de alcançar o mundo ressoando em nossos ouvidos; com a recomendação de esperar em oração constante e fervorosa atê receber o poder: com a promessa, feita pelo Salvador. e a nós estendida, oferecendo toda a ajuda de que precisamos, que desculpa podemos dar por estarmos incapacitados para essa grande obra? Que tremenda responsabilidade pesa sobre nós, sobre toda a Igreja, sobre cada crente! Poderíamos perguntar: como é possível, em tais circunstâncias, a apatia, a indolência e a comum e fatal negligência? Se algum dos primitivos cristãos a quem foi dada essa ordem deixasse de receber o poder, não o teríamos por grandemente culpado? Pois se neles a falha seria pecado, quanto mais em nós, com toda a luz da história e dos fatos nos cercando. luz que eles não possuíam. Alguns pastores e muitos crentes tratam este assunto como se devesse ficar ao cuidado da soberania de Deus, sem nenhum esforço persistente para se obter o revestimento. Era assim que os primeiros cristãos entendiam e tratavam do assunto? Em absoluto. Não descansaram enquanto o batismo de poder não veio sobre eles. Certa vez ouvi um pastor pregando sobre o batismo do Espírito Santo. Ele tratou-o como realidade, e, quando chegou à questão de como obtê-lo, disse com acerto que era da mesma forma que os apóstolos o receberam no Pentecoste. Fiquei satisfeito e todo ouvidos para escutá-lo esclarecer aos ouvintes a obrigação de não descansarem enquanto o não obtivessem. Nisso, porém, fiquei deceptionado, pois, antes de encerrar o sermão, ele procurou tirar do auditório o senso de obrigação de obter o batismo, deixando a impressão de que o caso ficava ao critério de Deus, e ainda dando a entender que não estavam certos aqueles que insistiam veemente e persistentemente com Deus no cumprimento da promessa. Também não Ihes ofereceu a certeza de obterem a bénção, se cumprissem as condições. De modo geral o sermão foi bom: mas achei que a congregação saiu sem nenhum estímulo ou senso de obrigação para buscar ardentemente o batismo. Aliás, é comum essa falha nos sermões que ouço: são muito instrutivos, mas não deixam na congregação o senso de obrigação ou o sentimento de grande estímulo quanto ao uso dos meios. São deficientes na conclusão: não deixam a consciência sob pressão, mem a mente sob o estímulo da esperança. A doutrina muitas vezes é boa, porém falta o "e daí?" Parece que muitos pastores e crentes professos ficam tecendo teorias, criticando e procurando justificar sua própria negligência. Assim não fizeram os apóstolos e demais cristãos. Não era uma questão que procuravam alcançar pelo intelecto antes de abraçá-la com o coração. Era para eles, como devia ser para nós, uma questão de fé em uma promessa. Encontro muitas pessoas procurando aprender pelo intelecto e resolver teoricamente questões de pura experiência. Apoquentam-se com esforços para compreender intelectualmente aquilo que deve ser recebido como experiência consciente pela fé. Há necessidade de uma grande reforma na Igreja quanto a este ponto em particular. As igrejas devem acordar para os fatos, assumir uma nova posição, uma atitude firme no tocante às qualidades dos pastores e oficiais. Devem recusar-se a aceitar como pastor um homem cujas qualidades para o cargo não estão inteiramente satisfeitas. Tenha o que mais tiver a recomendá-lo, mas se os seus antecedentes não comprovam que ele possui esse revestimento de poder para ganhar almas para Cristo, devem considerá-lo inapto para o cargo. Era costume das igrejas, e creio que em alguns lugares ainda o é, certificarem-se dos frutos espirituais dos trabalhos do pastor, antes de o considerarem capacitado e chamado por Deus à obra do ministério. De alguma maneira a igreja deve verificar se o pastor que chama apresenta um ministério frutífero e não uma haste seca, ou seja, um mero intelecto, uma cabeça quase sem coração; escritor elegante, mas sem unção; grande arrazoador, mas de pouca fé; de grande imaginação, talvez, porém sem o poder do Espírito de Deus. As igrejas precisariam ser exigentes com seminários teológicos neste assunto; enquanto não o forem receio que os seminários jamais acordem para a sua responsabilidade. Há alguns anos, um dos ramos da igreja escocesa ficou tão incomodado com a falta de unção e poder dos ministros que lhe eram fornecidos pelo seminário teológico, que tomou a resolução de não ocupar mais pastores formados ali, enquanto o seminário não se reformasse nessa parte. Foi uma repressão necessária, justa e oportuna, e creio que teve efeito salutar. Um seminário teológico devia indiscutivelmente ser uma escola não apenas para ensinar doutrina, mas também e, principalmente, para desenvolvimento da experiéncia cristã. Não há dúvida de que, nessas escolas, o intelecto deve ser bem provido; porém, é de muito maior importância que os alunos sejam conduzidos ao conhecimento íntimo e pessoal de Cristo, do poder da sua ressurreição, da comunicação de suas aflições. sendo feitos conforme a sua morte. Um seminário teológico que vise principalmente a cultura intelectual e forme eruditos a quem falta esse revestimento de poder do alto, é um laço e uma pedra de tropeço para a igreja. Os seminários não devem recomendar ninguém às igrejas, por maior que seja o grau da sua cultura intelectual, se não tiver obtido o grau mais elevado: o revestimento de poder do alto. Deve ser considerado incompetente para preparar homens para o ministério, o seminário que expedir como pastores homens que não possuam essa qualidade mais indispensável. As igrejas devem tratar de tomar informações e então considerar aqueles seminários que fornecem não apenas os mais instruídos, mas os pastores mais ungidos e cheios de poder. É incrível que, embora geralmente se admita que o revestimento de poder do alto é real e indispensável para o sucesso no ministério, na prática o assunto seja considerado pelas igrejas e escolas como sendo relativamente de pouca importância. Teoricamente se reconhece que é tudo; na prática é tratado como se não fosse nada. Desde os apóstolos até o tempo presente vem-se verificando que homens de mínima cultura humana, mas revestidos desse poder, têm tido o maior sucesso em ganhar almas para Cristo: enquanto que outros da mais apurada cultura, de posse de tudo quanto as escolas lhes forneceram, têm revelado a mais absoluta falta de poder no que concerne à obra específica do ministério. Assim mesmo continuamos dando dez vezes mais ênfase à cultura humana do que ao batismo do Espírito Santo. Na prática humana ela é tratada como sendo de importância incomparavelmente maior do que o revestimento de poder do alto. Os seminários possuem homens eruditos, porém muitas vezes lhes faltam homens de poder espiritual; por isso mesmo não insistem nesse revestimento de poder como sendo indispensável para a obra do ministério. Os estudantes são bombardeados quase além das suas possibilidades com o estudo e a cultura do intelecto, enquanto talvez nem uma hora por dia é dedicada à formação da experiência cristã. De fato, não tenho conhecimento de que ao menos um curso de preleçóes sobre a experiência cristã seja ministrado nos seminários teológicos. Entretanto, religião é experiência. É uma percepção interna. O convívio íntimo com Deus é todo o seu segredo. Há um mundo de conhecimento indispensável, nesse setor, o qual é inteiramente negligenciado pelos seminários teológicos. Neles, a doutrina, a filosofia, a teologia, a história eclesiástica, a homilética, é tudo: a verdadeira união íntima com Deus não é nada. O poder espiritual para vencer junto de Deus e com os homens tem pouco lugar no seu ensino. Às vezes tenho ficado surpreendido com o juízo que os homens fazem quanto à futura utilidade de jovens que se preparam para o ministério. Noto que mesmo os professores tendem muito a se enganar nessa matéria. Se um moço se revela bom estudante, escreve bem, progride na exegese, está adiantado na cultura intelectual, neste eles têm grandes esperanças, muito embora saibam, em muitos casos, que o jovem não sabe orar, e não tem unção, não tem poder na oração, não tem espírito de lutar. agonizar na intercessão e vencer com Deus. Contudo esperam que ele, por causa da sua cultura, faça sucesso no ministério e seja muito útil. De minha parte não deposito tal esperança nessa classe de homens. Tenho incomparavelmente maior esperança na utilidade do homem que, a qualquer custo, mantém sua comunhão diária com Deus, que almeja e luta por maiores alturas espirituais possíveis: que faz questão de não viver sem a vitória diária na oração ou sem o revestimento do poder do alto. As igrejas, os presbiteros, as associações e quem quer que autorize jovens para o ministério, são freqüentemente muito faltosos nesse sentido. Gastam horas informando-se da cultura intelectual dos candidatos, porém mal se ocupam alguns minutos em verificar a cultura do seu coração, o que sabem do poder de Cristo para salvar do pecado, o que conhecem do poder da oração e até que ponto estão revestidos de poder do alto para ganhar almas para Cristo. Nessas ocasiões, todo o processo não pode deixar senão a impressão de que a cultura humana tem preferência sobre a unção espiritual. Oxalá a situação fosse outra, e estivéssemos todos concordes, na prática, agora e para sempre, em nos apegar à promessa de Cristo e jamais julgar a nós mesmos ou a qualquer outro, aptos para a grande obra da Igreja enquanto não tivermos recebido plenamente o revestimento de poder do alto. Rogo aos meus irmãos, e principalmente aos mais jovens, que não julguem que estes artigos foram escritos no espírito de censura. Rogo às igrejas, rogo aos seminários, que recebam a palavra de exortação de um ancião experimentado nessas cousas e cujo coração lastima e está carregado sob o peso das deficiências da Igreja, dos ministros e dos seminários neste assunto. Irmãos, rogo-vos que considereis mais seriamente o caso, que acordeis e o levels a sério, não descansando enquanto esse assunto não for colocado no seu devido lugar e não tomar, à vista de toda a Igreja, aquela posição destacada e prática que Cristo lhe destinou. Capítulo 6 - Oração Vitoriosa Oração vitoriosa é aquela que consegue resultados. Fazer orações é uma cousa, vencer pela oração é outra. A vitória pela oração depende não tanto da quantidade, como da qualidade. A melhor introdução que tenho para este assunto é um fato da minha experiência anterior à minha conversão. Relato-o porque temo que tais experiências sejam muito comuns entre incrédulos. Ao que me lembro, eu nunca assistira a uma reunião de oração antes de começar o curso de direito. Então, pela primeira vez, passei a morar nas proximidades de um local onde havia reunião de oração todas as semanas. Eu não tinha muita oportunidade para conhecer, ver ou ouvir religião; por isso não tinha opinião formada a respeito. Em parte por curiosidade e em parte por certo desassossego de espírito, dificil de definir, comecei a freqüentar a tal reunião de oração. Nesse mesmo tempo comprei minha primeira Bíblia e comecei a Iê-la. Escutava as orações que eram feitas naquelas reuniões, com a máxima atenção que eu poderia prestar a orações tão frias e formais. Cada um pedia o dom e o derramamento do Espírito Santo. Tanto nas orações como nos comentários que de vez em quando faziam, confessavam que não conseguiam ser atendidos por Deus. Isso aliás, era patente, e por pouco que não fez de mim um cético. Vendo-me com tanta freqüência na reunião, o dirigente, certo dia, perguntou-me se eu não desejava que orassem por mim. Respondi que não, acrescentando: "Com certeza eu preciso de oração, mas as suas orações não são atendidas. Os senhores mesmos o confessam." Manifestei então o meu espanto com esse estado de cousas, em vista do que a Bíblia diz das vitórias da oração. De fato, durante algum tempo fiquei grandemente perplexo e em dúvida diante dos ensinos de Cristo sobre a oração, em confronto com aqui|o que eu presenciava, semana após semana, na reunião de oração. Seria Cristo realmente um ensinador divino? Teria ele de fato ensinado o que os Evangelhos Ihe atribuíam? Devia ser tomado ao pé da letra? Seria verdade que a oração tinha valor para conseguir bénçãos da parte de Deus? Se era verdade, como explicar isto que eu presenciava semana após semana e mês após mês nessa reunião de oração? Esses homens seriam crentes de fato? O que eu ali ouvia, seria realmente oração, no sentido bíblico? Seria a oração que Cristo tinha prometido atender? Aí encontrei a solução. Convenci-me de que eles estavam iludidos; que não obtinham vitórias porque não tinham nenhum direito a isso, pois não atendiam às condições que Deus determinou para que ele ouvisse a oração. Ao contrário, as oraçães deles eram justamente as do tipo que Deus prometera não atender. Evidentemente não percebiam que estavam correndo perigo de ir orando daquele modo até caírem no ceticismo quanto ao valor da oração. Lendo a Bíblia, observei as seguintes condições estabelecidas: 1. Fé que Deus atende à oração. Isso, evidentemente, importa na esperança de recebermos aquilo que pedimos. 2. Pedir de acordo com a vontade de Deus. Isso claramente implica em pedir-lhe só as cousas que Deus está pronto a conceder, mas também pedir-lhe num espírito que ele possa aceitar. Temo que seja comum crentes deixarem de levar em conta o estado de espírito que Deus exige deles como condição para atender às suas orações. Por exemplo, no Pai Nosso, o pedido: "Venha o Teu reino" requer, evidentemente, sinceridade para que tenha valor para Deus. Mas a sinceridade na apresentação desse pedido implica na consagração integral do coração e da vida de quem pede, para a consolidação desse reino. Implica em dedicar, a esse fim, tudo quanto temos e tudo quanto somos. Proferir essa petição em qualquer outro estado de espírito é hipocrisia e abominação diante de Deus. Assim na petição seguinte: "Seja feita a tua vontade na terra como no céu", Deus não promete atender o pedido a não ser que seja feita sinceramente. Mas sinceramente importa num estado de espírito que aceite toda a vontade de Deus, até onde a entendemos, da mesma forma que é aceita no céu. Importa na obediência total, inspirada no amor e na confiança, a toda a vontade de Deus, quer seja essa vontade revelada na sua Palavra, pelo seu Espírito ou na sua providência. Significa que nos mantemos, a nós mesmos e a tudo que somos e possuímos, à disposição de Deus de forma tão absoluta e voluntária, quanto o fazem os habitantes do céu. Se ficamos aquém disso, retendo para nós o que quer que seja, estamos "contemplando a iniqüidade no coração", e Deus não nos ouvirá. A sinceridade nessa petição significa um estado de absoluta e total consagração a Deus. Qualquer atitude que fique aquém dessa, importa em reter de Deus aquilo que lhe é devido. É "desviar os ouvidos de ouvir a lei". Mas que dizem as Escrituras? "O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável." Será que entendem isso os que professam a fé? O que é verdade com referência a essas duas petiçóes, também o é no que se refere a toda oração. Será que os crentes levam isso na devida consideração? Lembram-se de que tudo que se apresenta como oração é abominável se não for feito no estado de consagração inteira de quanto somos e temos a Deus? Se na oração e com ela, não nos oferecemos, com tudo quanto temos: se o nosso estado de espírito não é de quem aceita de coração toda a vontade de Deus, executando-a perfeitamente até onde a conhecemos, entao nossa oração é abominável. Que profanação terrível é o uso que freqüentemente se faz do Pai Nosso, tanto em público como em particular. Repetir como um papagaio "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, na terra como no céu", enquanto a vida está Ionge de se conformar com a vontade de Deus, é simplesmente revoltante. Ouvir os homens orarem: "Venha teu reino", enquanto está mais do que evidente que estao fazendo pouco ou nenhum sacrifício ou esforqo para promoverem esse reino, é uma refinada hipocrisia. Aí não há nada de oração vitoriosa. 3. A ausência do interesse egoista é uma condição da oração vitoriosa: "Pedis. e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres" (Tg 4.3). 4. Outra condição da oração vitoriosa é a consciência pura diante de Deus e dos homens. I João 3.20-22: "Se o nosso coração (nossa consciência) nos acusar, certamente Deus é maior do que o nosso coração, e conhece todas as cousas. Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus, e aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável." Aqui se tornam claras duas condições: primeira, que para sermos aceitos por Deus temos de conservar pura a consciência: e, segunda, que devemos guardar seus mandamentos e fazer diante dele o que Ihe é agradável. 5. Coração puro é condição da oração vitoriosa. Sl 66.18: "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá". 6. Toda a confissão e restituição devidas a Deus e aos homens é outra condição da oração vitoriosa. Pv 28.13: "0 que encobre as suas transgressões, jamais prosperará: mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia". 7. Outra condição: mãos limpas. SI 26.6: "Lavo as mãos na inocência, e, assim, andarei, Senhor, ao redor do teu altar". I Tm 2.8: "Quero que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem contenda". 8. A solução das contendas e animosidades entre irmãos é uma condição. Mt 5.23,24: "Se, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta". 9. A humildade é outra condição da oração vitoriosa. Tg 4.6: "Deus resiste aos soberbos, mas dá graçã aos humildes". 10. A remoção dos tropeços é ainda outra condição. Ez 14.3: "Filho do homem, estes homens levantaram os seus idolos nos seus corações, e o tropeço da sua iniqüidade puseram diante da sua face; devo eu de alguma maneira ser interrogado por eles?" 11. O espírito de perdoar também é condição. Mt 6.12: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como temos perdoado aos nossos devedores"; Mt 6.15: "Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas". 12. Exercitar o espírito da verdade é outra condição. SI 51.6: "Eis que te comprazes na verdade no íntimo". Se o nosso coração não estiver no espírito de acato à verdade; se não for imediatamente sincero e isento de egoísmo, estaremos "atendendo à iniqüidade no coração" e, portanto, o Senhor não nos ouvirá. 13. Orar em nome de Cristo é condição da oração vitoriosa. 14. A inspiração do Espírito Santo é outra condição. Toda oração verdadeiramente vitoriosa é inspirada pelo Espírito Santo. Rm 8.26,27; "Porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aque|e que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos". Esse é o verdadeiro espírito da oração: ser guiado pelo Espírito. É a única oração realmente vitoriosa. Será que realmente entendem isso os que se dizem crentes? Será que acreditam que, se não viverem e andarem no Espírito, se não aprenderem a orar pela intercessão do Espírito que está neles, não poderão ser vitoriosos com Deus? 15. O fervor é condição. Uma oração, para ser vitoriosa, tem de ser fervorosa. Tg 5.16: "Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a oração fervorosa de um justo." 16. A perseverança ou persistência na oração muitas vezes é uma condição de vitória. Vejam-se os casos de Jacó, de Daniel, de Elias, da siro fenícia, do juíz iníquo, e o ensino da Bíblia de modo geral. 17. Muitas vezes a angústia de espírito é condição da oração vitoriosa. "Desde as primeiras dores Sião deu à luz seus filhos". "Meus filhos", diz Paulo, "por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós". Isso dá a entender que, antes que se convertessem, Paulo já tinha sofrido angústia de espírito. De fato, a angústia da alma na oração é a única verdadeira oração vivificadora. Se alguém não a conhecer, não compeende o espírito da oração. Não se acha em estado de avivamento. Não entende a passagem já citada -- Rm 8.26,27. Enquanto ele não compreender essa oração angustiosa, não conhecerá o verdadeiro segredo do poder vivificador. 18. Outra condição da oração vitoriosa é o justo emprego dos meios para chegar ao objetivo, se os meios estiverem ao nosso alcance e se os reconhecermos necessários. Orar pelo reavivamento religioso e deixar de empregar qualquer outro meio, é tentar a Deus. Esse, conforme pude ver claramente, era o caso daqueles que faziam orações na reunião a que já me referi. Continuaram fazendo oração pelo avivamento, porém fora da reunião eram silenciosos como a morte no tocante ao assunto e nem abriam a boca para as pessoas ao redor. Continuaram nessa incoerência até o dia em que um descrente de destaque na comunidade lançou-lhes na minha presença uma tremenda repreensão. Ele expressou aquilo que eu sentia profundamente. Levantou-se e. com a maior solenidade e com lágrimas, disse: "Povo crente, que é que vocês querem dizer? Oram sempre, nestas reuniões, pedindo um reavivamento. Muitas vezes exortam uns aos outros a que despertem e usem meios para promover um avivamento. Afirmam uns aos outros, e também a nós que somos descrentes, que estamos caminhando para o inferno; e acredito que seja verdade. Insistem também em dizer que, se vocês mesmos despertassem, usando os meios apropriados, haveria um avivamento, e nos converteríamos. Falam-nos do nosso grande amigo, e de que nossas almas valem mais do que todos os mundos; entretanto. prosseguem nas suas ocupações relativamente triviais e não lançam mão desses meios. Não temos avivamento e nossas almas não são salvas." Nessa altura não teve mais palavras: sentou-se, soluçando. Nunca me esquecerei como a reprimenda calou profundamente naquela reunião de oração. Fez-lhes bem, pois não demorou que as pessoas ali presentes se prostrassem, e tivemos um reavivamento. Estive presente na primeira reunião em que se manifestou o espírito de avivamento. E que transformação se verificou no tom das suas oracõs, confissões e súplicas! Voltando para casa com um amigo, comentei: "Que mudança nesses crentes! Isso deve ser o início de um reavivamento." Realmente, há uma transformação em todas as reuniões sempre que os crentes são reavivados. Suas confissões adquirem significado: significam reforma e restituição; significam trabalho, o uso dos meios, mãos, bolsos, e coração abertos, e a consagração de todos os seus recursos à promoção da obra. 19. A oração vitoriosa é especifica. Visa um objetivo definido. Não podemos obter vitória para tudo de uma só vez. Nos casos registrados na Bíblia, em que a oração foi atendida, é notável que o suplicante pedia uma bênção definida. 20. Outra condição da oração vitoriosa é que nossa intenção seja idêntica àquilo que dizemos na oração: que não haja nenhuma simulação; em resumo, que sejamos sinceros como crianças, falando do coração, nem mais nem menos do que aquilo que queremos dizer, que sentimos e cremos. 21. Outra condição da oração vitoriosa é um estado de espírito que presume a fidelidade de Deus a todas as suas prornessas. 22. Mais uma condição é que, além de "orar no Espírito Santo", "sejamos sóbrios e vigiemos em oração". Com isso me refiro à vigilância contra tudo quanto possa apagar ou entristecer o Espírito de Deus em nosso coração. Também me refiro à vigilância pela resposta, em estado de espírito que usará diligentemente todos os meios necessários, a qualquer custo, com instância sobre instância. Quando estiver bem lavrado o terreno pousio no coração dos crentes e quando tiverem confessado e feito restituição -- desde que o trabalho seja completo e honesto -- cumprirão natural e inevitavelmente as condições, e obterão a vitória na oração. O que precisa ser muito bem cornpreendido, é que os demais não a obterão. Aquilo que comumente ouvimos em reuniões de oração e de conferência não é oração vitoriosa. É muitas vezes de estarrecer e de se lastimar, ver as ilusões que existem sobre o assunto. Quern já assistiu a reavivamentos legítimos e não se impressionou com a transformação de todo o espírito e caráter das orações dos crentes realmente avivados? Creio que nunca me poderia ter convertido, se não tivesse descoberto a solução do problema: "Por que tantas orações não obtêm resposta?" Capítulo 7 - Como Ganhar Almas "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes". No presente artigo desejo, com a devida vênia, deixar com meus irmãos mais jovens no ministério alguns pensamentos sobre a filosofia de se pregar o evangelho de modo a conseguir a salvação de almas. Esses pensamentos são o resultado de muito estudo, muita oração pela orientação divina e da experiência prática de muitos anos. A admoestação contida no texto bíblico que encima o presente artigo, interpreto-a como fazendo referência ao assunto, à ordem e à maneira de se pregar. O problema é este: como havemos de ganhar integralmente as almas para Cristo? Sem dúvida teremos de conseguir que se desprendam de si mesmos. 1. Os homens são livres agentes morais: racionais e responsáveis. 2. Estão em rebelião contra Deus, totalmente indispostos, inteiramente tomados de preconceitos, e comprometidos contra Deus. 3. Estão entregues à auto-satisfação como objetivo de sua vida. 4. Esse estado é (o que se chama em linguagem teológica) a depravação moral, ou seja, a fonte do pecado dentro de si mesmos, da qual fluem, por uma lei natural, todas as suas práticas pecaminosas. Esse estado voluntário de entrega é o "coração ímpio". É esse que precisa de uma transformação moral radical. 5. Deus é infinitamente benfazejo, e os pecadores incrédulos são egoístas e radicalmente opostos a Deus. Seu compromisso consigo mesmos, de satisfazerem os seus próprios apetites e pendores, chama-se em linguagem bíblica "a inclinação da carne" ou "pendor da carne", que "é inimizade contra Deus". 6. Essa inimizade é voluntária, e só pode ser vencida pela Palavra de Deus, que é eficaz através do ensino do Espírito Santo. 7. O evangelho serve a esse fim, e quando é sabiamente apresentado, podemos esperar confiadamente a cooperação eficaz do Santo Espírito. Isso está implícito na ordem de Jesus: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as naçães; ...e eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século." 8. Se não tivermos sabedoria, se formos incoerentes e antifilosóficos e se não seguirmos uma ordem natural na apresentação do evangelho, não temos direito de esperar pela cooperação divina. 9. No mister de ganhar almas, como em tudo mais, Deus opera através de leis naturais e de acordo com elas. Portanto, se quisermos ganhar almas, havemos de adaptar sabiamente os meios a esse fim. As verdades que apresentarmos, e a ordem da sua apresentação hão de ser adaptadas às leis naturais da mente, do pensamento e do funcionamento mental. Uma falsa filosofia mental poderá desviar-nos grandemente, levando-nos muitas vezes a trabalhar ignorantemente contra a operação do Espírito Santo. 10. Os pecadores devem ser convencidos da sua inimizade. Não conhecem a Deus, e por conseguinte ignoram muitas vezes a oposição do seu próprio coração contra ele. "Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado", porque é pela lei que o pecador adquire sua primeira idéia verdadeira de Deus. Pela lei, ele primeiro aprende que Deus é perfeitamente born e oposto a todo o egoísmo. Essa lei, pois, deve ser exposta em toda sua majestade contra o egoísmo e a inimizade do pecador. 11. Essa lei leva consigo a convicção irresistível da sua justiça, da qual nenhum agente moral pode duvidar. 12. Todos os homens sabem que cometeram pecado, porém nem todos estão convictos, nem da culpabilidade, nem das más conseqüências que o pecado merece. Na sua maioria são descuidados, não sentem o fardo do pecado nem os horrores e terrores do remorso: não têm senso de condenação nem de estarem perdidos. 13. Sem convicção, porém, não podem entender nem apreciar a salvação do evangelho. Ninguém pode inteligentemente e de coração, pedir ou aceitar perdão enquanto não percebe como é real e justa a sua condenação. 14. É absurdo, portanto, supor que um pecador indiferente, sem convicção de seu pecado, possa aceitar inteligente e reconhecidamente e perdão que o evangelho oferece, enquanto não aceitar a justiça de Deus em condená-lo. A conversão a Cristo é uma tranformação inteligente. Por isso a convicção do merecimento da condenação tem que preceder a aceitação da misericórdia, pois sem a convicção o pecador não compreende sua necessidade de misericórdia. É natural que o oferecimento seja rechaçado. O evangelho não é nenhuma boa-nova para o pecador indiferente e sem convicção de pecado. 15. A espiritualidade da lei deve ser aplicada inexoravelmente à consciência até que se aniquile a presunção do pecador de ser justo, e ele se coloque, mudo e contrito, diante de um Deus santo. 16. Em alguns homens essa convicção já está madura, e o pregador pode logo apresentar a Cristo, na esperança de que seja aceito; em tempos normais, porém. tais casos são excepcionais. A grande massa dos pecadores é indiferente e não tem convicção do seu pecado. Se presumirmos que estão convictos e preparados para receber a Cristo, insistindo com os pecadores a que o aceitem imediatamente, estamos iniciando a obra pelo fim e tornando ininteligível o nosso ensino. E semelhante processo acabará demonstrando-se errado, sejam quais forem as aparências e profissões do momento. O pecador poderá na verdade alcançar esperança através de tais ensinos: mas, a não ser que o Espírito Santo supra algo que o pregador deixou de fornecer, verificar-se-á falsa a esperança. É mister que sejam apresentados todos os elos essenciais da verdade. 17. Depois que a lei tiver feito sua obra, aniquilando a presunção do pecador quanto à sua justiça e deixando-o sem outro recurso senão a aceitação da misericórdia, deve-se levar o pecador a compreender a situação delicada e o perigo de se dispensar a execução da penalidade quando foi transgredido o preceito da lei. 18. Precisamente nesta altura deve-se levar o pecador a compreender que ele não deve concluir, com base na benevolência de Deus, que este pode com justiça perdoá-lo. Ao contrário, a não ser que a justiça pública seja satisfeita, a lei de benevolência universal proíbe o perdão dos pecados. Se não for levada em consideração a justiça pública no exercício da misericórdia, o bem público será sacrificado em benefício do indivíduo. Isso, Deus jamais fará. 19. Esse ensino obrigará o pecador a procurar alguma forma de satisfazer a justiça pública. 20. Apresentamos-lhe agora a obra expiatória de Cristo como fato revelado, limitando suas esperanças a Cristo como seu próprio holocausto. Ponhamos em destaque a verdade revelada de que Deus aceitou a morte de Cristo em lugar da morte do pecador, e que isso deve ser recebido com base no testemunho do próprio Deus. 21. Esmagado até contrição pelo poder convincente da lei, a revelação do amor de Deus manifestado na morte de Cristo há de gerar no pecador o sentimento de desgosto de si próprio e aquela tristeza segundo Deus, que a ninguém traz pesar. Diante dessa revelação, o pecador jamais se perdoa. Deus é santo e grandioso; ele, um pecador, salvo pela graça soberana. Isso poderá ser apresentado com maior ou menor precisão de acordo com as pessoas visadas, seu grau de inteligência, de capacidade para pensar e de cuidado para entender. 22. Não foi por acidente que a dispensação da lei antecedeu à dispensação da graça; mas está na ordem natural das coisas, de acordo com leis mentais preestabelecidas, e sempre a lei há de preparar o caminho do evangelho. A negligência nesses pontos poderá levar a falsas esperanças, à introdução de um falso padrão de experiência cristã e a uma igreja cheia de falsos convertidos. Isso o tempo demostrará. 23. O pregador deverá dirigir a verdade às pessoas presentes, aplicando-a de modo tão pessoal que cada uma sinta que a mensagem é para ela. É como se tem dito muitas vezes de certo pregador: "Ele não prega, ele explica o que outros pregam, e parece que fala diretamente a mim". 24. Esse método prenderá a atenção e levará os ouvintes a perderem de vista a extensão do sermão. Ficarão cansados de ouvir se não sentirem interesse pessoal no que dizemos. Conseguir o interesse pessoal do ouvinte no que se diz, é condição indispensável à sua conversão. Uma vez despertado o interesse pessoal, e mantida a atenção do ouvinte, dificilmente se queixará do tempo da pregação. Em quase todos os casos em que se reclama da demora do sermão, é porque não interessamos pessoalmente o ouvinte naquilo que dizemos. 25. Se deixamos de interessá-los pessoalmente, ou é porque não nos dirigimos pessoalmente ao ouvinte, ou porque nos falta unção e sinceridade, clareza e força, ou alguma outra cousa que devíamos possuir. O que é indispensável, é fazermos com que sintam que tanto nós quanto Deus visamos a eles. 26. Não devemos pensar que basta a piedade sincera para nos dar êxito em ganhar almas. Essa é apenas uma das condições do sucesso. Há de haver também bom senso, há de haver sabedoria espiritual para adaptar os meios ao fim. Assunto, maneira, ordem, tempo e lugar, todos precisam ser sabiamente ajustados ao fim que temos em vista. 27. Deus poderá, às vezes, converter almas por intermédio de homens que não são espirituais, quando possuem aquela sagacidade natural que os habilita a adaptar os meios a esse fim; mas a Bíblia nos apóia ao afirmarmos que esses são casos excepcionais. Sem essa sagacidade e adaptação dos meios ao fim, o homem espiritual deixará de ganhar almas para Cristo. 28. Os incrédulos necessitam de instrução de acordo com a medida da sua inteligência. Umas poucas verdades simples, quando sabiamente aplicadas e iluminadas pelo Espírito Santo, converterão crianças a Cristo. Eu disse sabiamente aplicadas, pois os meninos também são pecadores e necessitam da aplicação da lei, qual pedagogo, para conduzi-los até Cristo a fim de serem justificados pela fé. Verificar-se-á, mais cedo ou mais tarde, que algumas supostas conversões a Cristo são espúrias, pois houve omissão do trabaiho preparatório da lei, e Cristo não foi abraçado como Salvador do pecado e da condenação. 29. Pecadores instruídos e cultos, que estão sem convicção e céticos de coração, precisam de muito mais extensa e completa aplicação da verdade. Os profissionais necessitam que a rede do evangelho seja lançada toda em volta deles, sem haver nenhum buraco pelo qual possam escapar. Quando assim tratados, têm tanto maior probabilidade de se converterem, quanto maior for o grau da sua verdadeira inteligência. Tenho verificado que uma série de conferências dirigidas a advogados e adaptadas a seus modos de pensar e raciocinar, quase sempre pode convertê-Ios. 30. Para sermos bem sucedidos em ganhar almas, precisamos ser obervadores, estudar o caráter das pessoas, aplicar os fatos da experiência, da observação e da revelação às consciências de todas as classes. 31. É muito importante que sejam explicados os termos empregados. Antes da minha conversão, não ouvia inteligivelmente explicados os termos: arrependimento, fé, novo nascimento, conversáo. Arrependimeto era descrito como sendo um sentimento. Fé era apresentada como ato ou estado intelectual e não como ato voluntário de confiança. Regeneração era uma mudança física da natureza, produzida pelo poder direto do Espírito Santo, ao invés de uma mudança voluntária do propósito fundamental da alma, produzida pela iluminação espiritual do Espírito Santo. Até mesmo a conversão era representada como obra do Espírito Santo de tal modo a ocultar a verdade de que é ato do próprio pecador, sob a influência do Espírito Santo. 32. Devemos insistir em que o arrependimento importa na renúncia voluntária e efetiva de todo o pecado: que é mudança radical de atitude para com Deus. 33. A fé que salva é a confiança do coração em Cristo: ela opera pelo amor, purifica o coração e vence o mundo: não é fé salvadora aquela que não tiver esses atributos. 34. O pecador terá que exercer determinados atos mentais e precisa compreender quais são. O erro da filosofia mental apenas embaraça, e poderá ser um engano fatal para a alma. Muitas vezes os pecadores são encaminhados em pista errada. lnsiste-se com eles para que sintam, ao invés de exercerem os atos requeridos da vontade. Antes da minha conversão, jamais recebi de alguém uma idéia inteligível dos atos mentais que Deus exigia de mim. 35. A capacidade do pecado em enganar as almas, torna-as excessivamente sujeitas à ilusão: por isso compete, a quem ensina, o dever de rebuscar as moitas e de procurar em todos os cantos e fendas onde haja possibilidade de uma alma ter achado falso refúgio. Sejamos tão perseverantes e discriminadores que se torne impossível que o interessado venha a nutrir uma esperança falsa. 36. Não tenhamos receio de insistir. Não apliquemos, por falsa piedade, o esparadrapo onde houver necessidade da sonda. Não temamos desanimar o pecador convicto, fazendo-o voltar atrás, pelo fato de sondá-lo até ao fundo. Se o Espírito Santo estiver trabalhando nele, quanto mais esquadrinharmos e pesquisarmos, mais impossível se tornará para a alma voltar ou descansar no pecado. 37. Se quisermos salvar a alma, não poupemos a mão direita, o olho direito, ou qualquer ídolo querido: cuidemos do abandono de toda forma de pecado. Insistamos na plena confissão do mal a todos que tiverem direito à confissão. Insistamos na plena restituição, até onde for possível, a todas as partes prejudicadas. Não fiquemos aquém dos ensinos expressos de Cristo nessa matéria. Seja quem for o pecador, façamo-lo compreender claramente que, se não abandonar tudo que tem, não pode ser discípulo de Cristo. É necessária inteira e universal consagração a Deus de todos os poderes do corpo e da mente, de toda a propriedade, possessões, caráter e influência. Deve haver total abandono a Deus de todo o direito a si próprio ou a qualquer outra cousa, como condição de sua aceitação. 38. Compreendamos, e se possível façamos o pecador compreender, que tudo isso faz parte da verdadeira fé, do verdadeiro arrependimento. e que a real consagração abrange todos esses fatores. 39. Devemos lembrar constantemente ao pecador que é com um Cristo pessoal que ele está tratanto: que Deus em Cristo está buscando a sua reconciliação com ele, e que a condição dessa reconciliação é que o pecador submeta sua vontade e todo o seu ser a Deus -- que não "deixe para trás nem um casco". 40. É importante assegurar-lhe que "Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está no seu Filho"; que "Cristo nos foi feito sabedoria, justiça, santificação e redenção: e que, do princípio ao fim, ele achará toda a sua salvação em Cristo. 41. Depois que o pecador recebe inteligentemente toda essa doutrina e o Cristo nela revelado. ele deve perseverar até o fim, e esta é a última condição da sua salvação. Eis aqui uma importante tarefa: impedir que o pecador venha a recair e assegurar sua permaente santificação e confirmação para a glória eterna. 42. Será o caso que o declínio espiritual dos conversos tão comum não indica um grave defeito nas mensagens do púlpito? Por que será que tantos conversos esperançosos, em poucos meses de aparente conversão, perdem o primeiro amor, perdem todo o fervor na religião, negligenciam o dever e continuam cristãos de nome, porém mundanos no espírito e na vida? 43. Um pregador realmente bem sucedido deve não apenas ganhar almas para Cristo, mas também conservá-las. Deve conseguir não somente sua conversão, mas também sua permanente santificação. 44. Na Bíblia não há nada mais expressamente prometido nesta vida do que a santificação permanente. 1 Ts 5.23.24: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo: e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará." Essa é indubitavelmente a oração dos apóstolos pela santificação permanente nesta vida, com a promessa explícita de que aquele que nos chamou o fará. 45. Aprendemos pelas Escrituras que, "tendo nele crido" somos, ou podemos ser, selados com o Santo Espírito da promessa, e que esse selo é "o penhor da nossa herança". Ef 1.13.14: "Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da nossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa, o qual é o penhor da nossa herança até o resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória." Esse selo, esse penhor da nossa herança, é que assegura a nossa salvação. Assim, em Ef 4.30, o apóstolo diz: "Não entristeçais o Espírito de Deus. no qual fostes selados para o dia da redenção." E em 2 Co 1.21.22 o apóstolo diz: "Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações." Assim somos confirmados em Cristo e ungidos pelo Espírito, como também selados pelo penhor do Espírito em nossos corações. E isso, é bom lembrar, é uma bénção que recebemos depois de crer, conforme Paulo nos informou em sua epístola aos efésios, acima citada. Ora, é da máxima importância que os conversos aprendam a não ficar aquém dessa santificação permanente, desse selo, dessa confirmação em Cristo pela unção especial do Espírito Santo. 46. Ora, irmãos, se não conhecermos o que significa isso em nossa própria experiência, e não conduzirmos os conversos à mesma experiência, falhamos lamentável e essencialmente em nosso ensino e omitimos a verdadeira nata e plenitude do evangelho. 47. É importante compreender que, enquanto essa experiência foi rara entre os pastores, ela será desacreditada pelas igrejas e será quase impossível, a um pregador isolado dessa doutrina, vencer a incredulidade da sua igreja. Terão dúvidas a respeito, porque tão poucos pregam ou acreditam nessa doutrina; explicarão a insistência do pastor dizendo que a sua experiência se deve a seu temperamento peculiar; assim, deixarão de receber essa unção por causa da incredulidade. Em tais circunstâncias será muito mais necessário insistir na importância e no privilégio da santificação permanente. 48. O pecado consiste no pendor da carne, em "fazer a vontade da carne e dos pensamentos". A santificação permanente consiste na consagração integral e permanente a Deus. Importa na recusa de se obedecer à vontade da carne ou dos pensamentos. O batismo ou selo do Espírito Santo subjuga o poder dos desejos, fortalece e confirma a vontade na resistência ao impulso do desejo e no propósito permanente de fazer de todo o ser uma oferta a Deus. 49. Se nos mantivermos em silêncio sobre esse assunto, a inferência natural é que não cremos nele e, evidentemente, que o desconhecemos na experiência. Isso fatalmente será uma pedra de tropeço para a igreja. 50. Uma vez que esta é uma doutrina de inegável importância e claramente ensinada no evangelho, sendo, com efeito, a "banha e gordura" do evangelho, deixar de ensiná-la é despojá-lo da sua mais rica herança. 51. O testemunho da igreja, e, em grande parte, do ministério, sobre esse assunto, tem sido lamentaveImente falho. Essa herança tem sido retirada da igreja; assim sendo, é de se estranhar que ela se desvie tão vergonhosamente? O testemunho de relativamente poucos, aqui e ali, que insistem nessa doutrina, é quase neutralizado pelo contra-testemunho ou silêncio culposo da grande massa das testemunhas de Cristo. 52. Meus queridos irmãos, são de tal modo amadurecidas as minhas convicções e profundos os meus sentimentos sobre esse assunto que não devo ocultar-lhes os meus receios, de que, em muitos casos, é a falta da experiência pessoal a razão desse grave defeito na pregação do evangelho. Não digo isso para magoar; longe de mim tal desejo. Não é de admirar que muitos não tenham essa experiência. Muitas vezes a educação religiosa é deficiente. Os crentes são levados a desposar outro ponto de vista sobre o assunto. Causas várias têm contribuido para criar uma predisposição contrária a essa doutrina bendita do evangelho. Intelectualmente os crentes não têm crido nela; e, naturalmente, não têm recebido a Cristo em sua plenitude. Talvez essa doutrina tenha sido uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porém, não permitamos que o preconceito vença; lancemo-nos sobre Cristo mediante a aceitação presente, atual, dele como nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção. Vejamos se ele não fará infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos. 53. Ninguém, seja crente ou incrédulo, deve ser deixado em paz enquanto tolerar em si qualquer pecado. Se pudermos impedir, não devemos permitir que ninguém nutra esperanças do céu, enquanto estiver consentindo no pecado, seja ele qual for. Nossa constante exigência e persuasão devem ser: "Sede santos, porque Deus é santo." "Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está no céu." Lembremo-nos da maneira pela qual Cristo concluiu seu memorável Sermão da Montanha. Depois de ter exposto diante de seus ouvintes aquelas verdades terrivelmente perscrutadoras, e de ter exigido que fossem perfeitos como é pertfeito o Pai no céu, termina assegurando-lhes que ninguém pode ser salvo sem receber e obedecer aos seus ensinos. Ao invés de tentarmos agradar o povo nos seus pecados, devemos continuamente procurar induzi-los a abandonar esses pecados. Irmãos, façamo-lo para que não sejam as nossas vestes contaminadas pelo seu sangue. Se seguirmos esse caminho e pregarmos constantemente com unção e poder, permanecendo na plenitude da doutrina de Cristo, poderemos esperar, com alegria, salvar tanto a nós mesmos como aos nossos ouvintes. Capítulo 8 - Como Vencer o Pecado Em todos os períodos do meu ministério tenho encontrado muitos cristãos professos em lamentável estado de escravidão ao mundo, à carne ou ao diabo, pois o apóstolo diz claramente: "O pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça." Em toda a minha vida cristã tenho ficado penalizado ao encontrar tantos crentes vivendo na escravidão legalista descrita no capítulo sete de Romanos: uma vida de pecar, de resolver reformar-se e de cair novamente. E o que é particularmente entristecedor, e mesmo motivo de angústia, é que muitos pastores e cristãos proeminentes dão instrução inteiramente errônea sobre o assunto de como vencer o pecado. A orientação que, lamentavelmente, costuma ser dada sobre esse assunto, resume-se nisto: "Trata dos teus pecados um por um, resolve abster-te deles, luta contra eles, com oração e jejum se for preciso, até vencê-los. Dispõe firmemente a tua vontade contra uma recaída no pecado, ora e luta, resolve não fraquejar e persiste nisso até que formes o hábito da obediência e quebres todos os teus hábitos pecaminosos". É verdade que geralmente acrescentam: "Nessa luta, não deverás depender das tuas próprias forças, mas pedir o auxílio de Deus". Em uma palavra, grande parte do ensino, tanto do púlpito como da literatura evangélica, acaba dando nisto: a santificação é pelas obras, não pela fé. Noto que o Dr. Chalmers, nas suas preleções sobre Romanos, sustenta expressamente que a justificação é pela fé, mas a santificação é pelas obras. Há uns vinte e cinco anos, parece-me que um eminente professor de teologia da Nova Inglaterra sustentou praticamente a mesma doutrina. No início da minha vida cristã eu quase ia sendo enganado por uma das decisões do Presidente Edwards, que consistia mais ou menos nisto: quando ele caía em algum pecado, reconstruía a sua evolução até descobrir a origem, então lutava e orava com todas as forças contra esse pecado até subjugá-lo. Isso, como se vê, é dirigir a atenção ao ato patente do pecado, sua fonte ou ocasiões. Tomar a decisão e lutar contra o ato, faz-nos concentrar a atenção no pecado e sua fonte, desviando-a inteiramente de Cristo . É essencial esclarecermos o quanto antes que todos os esforços dessa natureza são inúteis e não raro resultam em desilusão. Em primeiro lugar, é perder de vista o que realmente constitui o pecado, e, em segundo, abandonar a única maneira viável de evitá-Io. Desse modo poderá ser dominado e evitado o ato ou hábito exterior, enquanto que aquilo que realmente constitui o pecado permanece intato. O pecado não é externo e sim interno. Não é movimento muscular, nem mesmo a volição causadora da ação muscular: não é um sentimento ou desejo involuntário. É um ato ou estado voluntário da mente. O pecado é nada menos do que aquela escolha voluntária e fundamental, aquele estado de submissão ao agrado próprio, donde procedem as volições, as ações externas, os propósitos, as intenções, enfim todas as causas que são comumente chamadas de pecado. E contra que estamos agindo, quando tomamos resoluções e fazemos esforços para suprimir hábitos pecaminosos e formar outros, santos? "O amor é o cumprimento da lei." Mas podemos induzir o amor por meio de decisões? As decisões eliminam o egoísmo? Claro que não. Podemos suprimir esta ou aquela manifestação ou expressão do egoísmo, resolvendo não fazer isto ou aquilo, orando e lutando contra o mal. Podemos resolver prestar obediência aos mandamentos de Deus. Mas arrancar do peito o egoísmo por meio de resoluções é um contra-senso. Assim também é contra-senso o esforço para conseguir, por meio de decisões, obedecer em espírito os mandamentos de Deus, amar conforme a lei de Deus. Há muitos que sustentam que o pecado consiste nos desejos. Que seja! Dominamos por força de resoluções os nossos desejos? Poderemos, pela resolução, deixar de satisfazer determinado desejo. Poderemos fazer ainda mais, abstendo-nos de satisfazer o desejo em sua manifestação exterior. Isso, porém, não é assegurar o amor de Deus, que é o que constitui a obediência. Se nos tornássemos anacoretas, emparedando-nos em uma cela e crucificando todos os nossos desejos e apetites no que se refere à sua satisfação, apenas teríamos evitado certas formas de pecado, porém a raiz que realmente constitui o pecado não seria tocada. Nossa resolução não assegura o amor, a unica verdadeira obediência a Deus. Todo o nosso batalhar contra a manifestação exterior do pecado à força das resoluções, apenas acabam tornando-nos em sepulcros caiados. É inútil lutar contra o desejo, a poder de resoluções; pois tudo isso, por mais bem sucedido que seja o esforço para reprimir o pecado, quer na vida exterior quer no desejo interior, acabará em desilusão, pois a poder de resolução não podemos amar. Todos os esforços dessa natureza para vencer o pecado são inúteis, e ainda em desacordo com a Bíblia. Esta ensina expressamente que o pecado é vencido pela fé em Cristo. Ele é "o caminho, a verdade e a vida". Diz-se a respeito dos crentes que seus corações são "purificados pela fé" (At 15.9). E em Atos 26.18 afirma-se que são santificados pela fé em Cristo. Em Romanos 9.31-32 lemos que os judeus não atingiram a justiça porque não a buscaram pela fé e, sim, pelas obras. A doutrina da Bíblia é que, pela fé, Cristo salva o seu povo do pecado; que o Espírito de Cristo é recebido pela fé para habitar no coração. É a fé que opera pelo amor. O amor é operado e sustentado pela fé. Pela fé os crentes "vencem o mundo, a carne e o diabo". É pela fé que se "apagam todos os dardos inflamados do maligno". É pela fé que os crentes se "revestem do Senhor Jesus Cristo" e "se despem do velho homem com os seu feitos". É pela fé que combatemos "o bom combate", e não pelas resoluções. É pela fé que "ficamos em pé" e pelas resoluções é que caímos. Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. É pela fé que a carne é subjugada e conquistados os desejos carnais. Na realidade é simplesmente pela fé que recebemos o Espírito de Cristo para operar em nós o querer e o efetuar segundo seu beneplácito. Ele derrama em nosso coração o seu próprio amor, acendendo assim o nosso. Toda vitória sobre o pecado vem pela fé em Cristo; e quando o pensamento se desvia de Cristo para as resolções e as lutas contra o pecado, quer tenhamos consciência disso ou não, estamos agindo com nossas próprias forças, rejeitando o socorro de Cristo: estamos sob uma perigosa ilusão. Nada, senão a vida e energia do Espírito de Cristo dentro de nós, pode salvar-nos do pecado: e a confiança é a condição uniforme e universal da operação dessa energia salvadora dentro de nós. Até quando esse fato continuará sendo ignorado, pelo menos na prática, pelos ensinadores da religião? Até que profundidade vai a raiz da presunção da justiça própria e da autodependência no coração do homem? É tão profunda que esta é uma das lições que o coração do homem mais custa a aprender: renunciar à independência e confiar inteiramente em Cristo. Quando abrirmos a porta para a confiança absoluta, ele entrará e fará conosco e em nós a sua morada. Inundamo-nos do seu amor. Ele faz toda a nossa alma reviver para senti-lo e. assim e somente assim, purifica o nosso coração pela fé. Ele sustenta nossa vontade na atitude de devoção. Ele aviva e regula nossos afetos, desejos, apetites e paixões, tornando-se a nossa santificação. Muito do que ouvimos em reuniões de oração e de conferência, do púlpito e da literatura, dá orientação tão errônea, que ouvir ou ler tais orientações se torna doloroso ao ponto de ser quase insuportáv el. Isso só pode gerar ilusão, desânimo e a rejeição prática de Cristo conforme é apresentado no evangelho. Ai da cegueira que "conduz à confusão" a alma que anseia a libertação do poder do pecado! Tenho escutado, às vezes, doutrinas legalistas sobre este assunto até sentir vontade de gritar. É simplesmente incrível ouvirmos de homens cristãos que fazem objeção ao ensino que tenho apresentado aqui, alegando que nos deixa em estado passivo, para sermos salvos sem atividade nossa. Que ignorância essa objeção revela! A Bíblia ensina que, pela confiança em Cristo, recebemos uma influência interior que estimula e dirige a nossa atividade; que pela fé recebemos sua influência puriticadora no recôndito do nosso ser; que através da sua verdade revelada diretamente à alma, ele vivifica todo o nosso ser interior para ter a atitude de amor e obediência; e é esse o caminho, não havendo outro caminho prático, para vencermos o pecado. Mas alguém poderá perguntar: "Não nos exorta o apóstolo assim: "Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade"? Então isso não é uma exortação para fazermos aquilo que nesse artigo estais condenando"? De maneira alguma. No verso 12 de Filipenses 2. Paulo diz: "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade". Não há aqui nenhuma exortação a trabalhar por força de resolução, mas sim por meio da operação interior de Deus. Paulo os tinha ensinado, quando estava presente com eles: agora, na sua ausência, exorta-os a desenvolverem a salvação, não pela resolução, mas pela operação de Deus. É precisamente essa a doutrina do presente folheto. Paulo ensinara muitas vezes à Igreja, que Cristo no coração é a nossa santificação, e que essa influência se recebe pela fé. Portanto, não iria agora ensinar que a nossa santificação deve ser desenvolvida mediante resoluções e esforços para reprimir hábitos pecaminosos e formar hábitos santos. De modo muito feliz esse passo da Escritura reconhece as duas agências, divina e humana, na obra da santificação. Deus opera em nós o querer e o realizar: nós aceitamos pela fé a sua operação queremos e efetuamos de acordo com a sua boa vontade. A própria fé é um estado ativo e não passivo. A idéia de uma santidade passiva é um contra-senso. Que ninguém alegue que, ao exortarmos as pessoas a confiarem inteiramente em Cristo, estamos ensinando que alguém deva ou possa ser passivo ao receber em seu íntimo a influência divina e com ela cooperar. Essa influência é moral e não fisica. É persuasão e não força. lnfluencia a livre vontade e, por conseguinte, o faz pela verdade e não pela força. Oxalá, fosse compreendido que toda a vida espiritual, que houver em qualquer pessoa, é recebida de Cristo pela fé, como o ramo recebe da videira a sua vida. Abaixo com o evangelho das resoluções! É uma cilada de morte. Abaixo com o esforço para tornar a vida santa, quando o coração não tem em si o amor de Deus! Oxalá os homens aprendessem a olhar diretamente para Cristo pelo evangelho, e de tal modo a chegarem-se a ele mediante um ato de confiante amor, que ficassem envolvidos na simpatia universal do seu modo de pensar! lsso, e somente isso, é santificação. Capítulo 9 - Pregador, Salva a Ti Mesmo "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres, porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes." I Tm 4.16 Não vou pregar a pregadores, mas apenas sugerir aIgumas condições sob as quais poderão apossar-se da salvação prometida nesse texto. 1. Cuida em ser constrangido pelo amor a pregar o evangelho, como o foi Cristo a providenciar um evangelho. 2. Cuida em ter o revestimento especial de poder do alto, pelo batismo do Espírito Santo. 3. Cuida em ler a vocação, não apenas da cabeça, mas do coração, para empreenderes a pregação do evangelho. Com isso quero dizer: së cordial e intensamente inclinado a buscar a salvação de almas como a grande missão da tua vida; e não empreendas aquilo a que teu coração não te impelir. 4. Mantém constantemente a comunhão íntima com Deus. 5. Faze da Bíblia o teu Livro dos livros. Estuda-a nuito, de joelhos, esperando iluminação divina. 6. Acautela-te de depender dos comentários. Consulta-os quando convier: porém julga pot ti mesmo, à luz do Espírito Santo. 7. Guarda-te puro -- em propósito, em pensamento, em sentimento, em palavras e em ações. 8. Contempla a culpa dos pecadores e o perigo que correm, para que se intensifique teu zelo pela sua salvação. 9. Também pondera profundamente e demora-te diante do infinito amor e compaixão de Cristo por eles. 10. Ama-os de tal modo a estares pronto a morrer por eles. 11. Dedica os esforços da tua mente ao estudo de meios e modos de salvá-los. Faze disso o grande e intensivo estudo da tua vida. 12. Recusa-te a ser desviado dessa obra. Guarda-te contra toda tentação que arrefeça teu interesse nela. 13. Crê na afirmação de Cristo, de que ele está contigo nessa obra sempre e em todo lugar, para dar-te todo o auxílio necessário. 14. "O que ganha almas é sábio": e "se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera: e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé". Lembra-te, portanto, que tens a obrigação de possuir a sabedoria que ganhará almas para Cristo. 15. Sendo chamado por Deus para a obra, faze dessa tua vocação o argumento constante junto a Deus, para dele obteres tudo que precisares para a execução da obra. 16. Sê diligente e laborioso, "a tempo e fora de tempo". 17. Conversa muito com todas as classes dos teus ouvintes sobre a questão da salvação, a fim de compreenderes suas opiniões, erros e necessidades. Verifica seus preconceitos, sua ignorância, seu humor, seus hábitos e tudo mais que precisares saber a fim de adaptares tua instrução às suas necessidades. 18. Cuida em que teus próprios hábitos sejam corretos em todo sentido; que sejas temperado em todas as cousas: livre da mancha ou odor do fumo, do álcool, das drogas, de tudo que terias motivo para envergonhar-te e que sirva de tropeço a outros. 19. Não sejas "de mente leviana," antes "põe o Senhor continuamente diante de ti". 20. Controla bem tua lingua e não te dês a conversas frívolas e sem proveito. 21. Deixa sempre que o povo observe que o tratas com a mais absoluta seriedade tanto no púlpito como fora dele: e não permitas que o convívio diário com as pessoas neutralize tua mensagem no domingo. 22. Resolve "nada saber" entre teu povo "senão a Jesus e este crucificado": e deixa claro que, na qualidade de embaixador de Cristo, teus negócios com eles dizem respeito inteiramente à salvação da alma. 23. Tem cuidado de ensiná-los não só por preceito mas também pelo exemplo. Pratica tu mesmo o que pregas. 24. Tem cuidado especial no relacionamento com o sexo feminino, a fim de jamais levantares pensamento ou desconfiança da menor impureza em ti mesmo. 25. Vigia os teus pontos fracos. Se fores por natureza dado a jovialidade e brincadeiras, vigia ocasiões de falha nesse setor. 26. Se fores por natureza carrancudo e insocáivel, vigia contra o mau humor e a insociabilidade. 27. Evita toda a afetação e fingimento. Sê aquilo que professas ser, e não serás tentado a "fazer de conta". 28. Que a simplicidade, a sinceridade e a correção cristã, assinalem toda a tua vida. 29. Passa muito tempo, diariamente pela manhã e à noite, em oração e comunhão direta com Deus. Isso te trará poder para a salvação. Não há erudição nem estudo que compense a perda dessa comunhão. Se deixares de manter comunhão com Deus, "te enfraquecerás e serás como qualquer outro homem". 30. Acautela-te do erro que afirma não haver participação do homem na regeneração nem, por conseguinte, ligação entre esta participação e o resultado final, ou seja, a regeneração da alma. 31. Compreende que a regeneração é uma transformação também moral e, portanto, voluntária. 32. Compreende que o evangelho se destina a transformar o coração dos homens, e, apresentando-o sabiamente, podes contar com a cooperação eficiente do Espírito Santo. 33. Na escolha e no tratamento dos textos para teus sermões, procura sempre a orientação direta do Espírito Santo. 34. Que todos os teus sermões sejam do coração e não apenas da cabeça. 35. Prega à base da experiência, e não por ouvires dizer, nem apenas pela leitura e estudo. 36. Apresenta sempre o assunto que o Espírito Santo põe no teu coração para a ocasião. Lança mão dos pontos que o Espírito apresentar à tua mente, e apresenta-os tão diretamente quanto possível à congregação. 37. Entrega-te à oração sempre que fores pregar, e vai do aposento para o púlpito com os gemidos íntimos do Espírito procurando expressão nos teus lábios. 38. A tua mente deve estar plenamente imbuída do assunto, de maneira que este esteja procurando expressão: abre a boca e deixa as palavras saírem como torrente. 39. Vê que não esteja sobre ti o "temor do homem que arma um laço". Deixa o povo compreender que temes muito a Deus para temê-los. 40. Não deixes nunca que a tua popularidade com o povo tenha influência sobre a tua pregação. 41. Não deixes nunca que a questão de salário te detenha de "declarar todo o conselho de Deus", "quer ouçam quer deixem de ouvir". 42. Não contemporizes, para não acontecer perderes a confiança do povo e assim falhares em salvá-los. Eles não poderão respeitar-te integralmente como embaixador de Cristo, se perceberem que te falta coragem para cumprires o teu dever. 43. Cuida em te "recomendar à consciência de todo homem, na presença de Deus". 44. Não sejas "cobiçoso de torpe ganância". 45. Evita toda aparência de vaidade. 46. Inspira o respeito do povo pela tua sinceridade e sabedoria espiritual. 47. Não deixes nem de longe que imaginem que possas ser influenciado na pregação por questões de salário maior, menor ou nenhum. 48. Não dês a impressão de que aprecias uma boa mesa e gostas de ser convidado para jantar; pois isso será um laço para ti e uma pedra de tropeço para eles. 49. Subjuga o teu corpo, para que, tendo pregado o outros, não venhas tu mesmo a ser desqualificado. 50. Vela pelas almas, como quem deve prestar contas a Deus. 51. Sê diligente no estudo, e instrui cabalmente o povo em tudo que é essencial à salvação. 52. Jamais bajules os ricos. 53. Sê particularmente atencioso às necessidades e à instrução dos pobres. 54. Não te deixes levar à transigência com o pecado pelo suborno de festas beneficientes. 55. Não te deixes tratar publicamente como mendigo, pois do contrário virás a merecer o desprezo de larga classe dos teus ouvintes. 56. Repele toda tentativa de fechares a boca a tudo quanto for extravagante, errado ou prejudicial entre o teu povo. 57. Mantém a tua integridade e independência pastorais, para não cauterizar a consciência, apagar o Espírito Santo e perder a confiança do povo e o favor de Deus. 58. Sê o exemplo do rebanho: permite que a tua vida ilustre o teu ensino. Lembra-te de que as tuas ações e espírito ensinarão com ainda maior ênfase do que os teus sermões. 59. Se pregas que os homens devem servir a Deus e ao próximo por amor, cuida em fazer o mesmo e evita tudo que possa dar a impressão de que trabalhas por salário. 60. Serve ao povo com amor e anima-os a retribuir, não com o equivalente em dinheiro, mas com a retribuição do amor, que proporcionará refrigério tanto a ti como a eles. 61. Repele toda proposta para angariar fundos para ti ou para o trabalho da igreja junto a homens mundanos, embora sejam solícitos. 62. Repele as festas e reuniões sociais dispersivas, principalmente nas épocas mais favoráveis a esforços unidos para a conversão de almas a Cristo. Podes estar certo de que o diabo procurará desviar-te nessa direção. Quando estiveres orando e planejando um avivamento da obra de Deus, alguns mundanos da igreja te convidarão a uma festa. Não vás, pois se fores, terás uma série de festas, que virão anular as tuas orações. 63. Não te deixes enganar: o teu poder espiritual perante o povo nunca crescerá pela aceitação de tais convites em tais épocas. Se a ocasião é boa para festas, porque o povo está folgado, também é boa para reuniões religiosas, e tua influência deve ser aplicada para atrair o povo à casa de Deus. 64. Cuida em conhecer pessoalmente e viver diariamente a pessoa de Cristo.